Entre Altares e Portais

Entre Altares e PortaisPT

Mistério/Thriller
Última atualização: 2025-06-13
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Índice

Tudo começou com a neblina. Espessa, silenciosa, tomou o prédio sem aviso, abafando os sons da cidade e apagando qualquer noção de tempo. Trancados entre paredes que antes pareciam familiares, os moradores começam a perceber pequenas distorções na realidade — ruídos que não têm origem, reflexos que não acompanham os movimentos, presenças que se sentem mesmo em cômodos vazios. Com o passar dos dias, a fronteira entre o real e o imaginário começa a ruir. Alguns afirmam ter visto zumbis vagando pelos corredores. Outros, criaturas de olhos negros e pele translúcida, observando da escuridão. O medo coletivo cresce, mas é o silêncio dos que acreditam estar despertando para uma verdade oculta que mais assusta. Altares surgem onde antes havia concreto. Portais se abrem, convidando. Será a loucura uma fuga ou a única resposta sensata? E se o prédio em si for mais do que estrutura — um limiar entre mundos, uma armadilha para as mentes mais frágeis? No fim, talvez o verdadeiro terror não esteja lá fora... mas dentro de cada um deles.

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Capítulo 1

Capítulo 1 — Neblina

Jonas apertava a sacola de plástico com força demais. O barulho irritante do plástico estalava em suas mãos, mas ele não parava. Era como se aquele som fosse a única coisa mantendo o mundo estável, uma espécie de trilho invisível que o guiava de volta pra casa.

Mãe precisa do remédio às cinco. Sempre às cinco. Foi o que o médico disse. Cinco. Nunca quatro e cinquenta e nove. Nunca cinco e cinco. Cinco.

A rua estava estranhamente silenciosa. O mundo parecia abafado, como se alguém tivesse jogado um cobertor pesado sobre tudo. O sol, que pouco antes refletia nas janelas dos prédios, agora estava escondido atrás de uma camada espessa de... fumaça? Não. Era algo mais denso. Mais frio.

Neblina.

Mas não faz frio hoje... Não deveria haver neblina. Isso é coisa da minha cabeça? Não é? Eu sempre confundo essas coisas. Já disseram isso pra mim. Às vezes é real. Às vezes não. Como saber? Como saber agora?

Ele parou na esquina. Daquele ponto podia ver o prédio onde morava — ou o que restava dele. As linhas retas da arquitetura haviam sumido sob o manto branco e opaco que subia do chão até o céu. Como se o prédio estivesse sendo engolido, disfarçado, apagado do mapa.

O prédio está sumindo. Isso não é normal. Mas também não é impossível. Talvez seja coisa da medicação. Ou da falta dela. Eu só preciso subir, dar o remédio pra ela. Depois eu durmo. Isso tudo vai passar quando eu dormir.

O portão da frente, sempre trancado, estava entreaberto. Um rangido baixo parecia vir de dentro — ou talvez da memória dele. Ele se lembrava de ouvir esse som antes, em sonhos. Ou pesadelos.

Ele olhou para os lados. As pessoas passavam como se nada estivesse acontecendo. Um senhor atravessava a rua mexendo no celular. Uma mulher empurrava um carrinho de bebê.

Eles não veem. Claro que não veem. Por que só eu vejo essas coisas? Eu devia ligar pra alguém? Pra quem? Ninguém acredita. Nunca acreditam. Melhor entrar. Entregar o remédio. Dormir. Dormir sempre melhora. Ou piora. Mas pelo menos passa.

Com um suspiro que mais parecia um tremor, Jonas deu o primeiro passo em direção ao prédio. A sacola balançou ao lado do corpo, fazendo o mesmo som estalado e repetitivo.

Dentro da névoa, o mundo parecia mais próximo. Mais apertado. E silencioso demais.

A sacola de plástico parecia viva nas mãos de Jonas. Ela estalava com cada passo, vibrando como se tivesse algo inquieto dentro — embora só houvesse uma caixa de comprimidos e o recibo da farmácia. O barulho a cada movimento era nítido, cortante. Aquele tipo de som que ficava preso nos ouvidos, repetindo, repetindo, repetindo.

Ela não gosta de barulho, a mãe. Vai dizer que eu fiz barulho demais. Vai dizer que foi por isso que o remédio não funcionou.

Ele tentou andar mais devagar, como se isso pudesse calar o som da sacola. Mas ela parecia querer chamar atenção. Jonas olhou para ela como se a sacola pudesse entender — ou responder. Estava um pouco amassada nas bordas, transparente demais, e o nome da farmácia estava impresso em vermelho borrado, como sangue diluído.

Do outro lado da rua, o prédio surgia entre a neblina como um monstro adormecido. Alto, estático... estranho. Não era só a cor cinzenta que o envolvia, mas a forma como ele parecia ter se afastado do resto do mundo. Como se estivesse mais longe do que deveria. Mais fundo.

Ele está ali. É o mesmo prédio. Mas não é o mesmo. Algo mudou. Ele está mais... torto? Não. Não torto. Mas deslocado. Como quando uma porta fecha meio centímetro fora do encaixe.

As ruas ao redor estavam calmas, calmas demais. As árvores não balançavam. O vento não soprava. Carros passavam como sombras, com faróis pálidos e silêncio dentro. Jonas sentia que, se esticasse o braço, poderia atravessar um deles — como se tudo ao redor fosse só projeção. As pessoas caminhavam distraídas, presas em seus próprios mundos. Ninguém olhava para cima. Ninguém via o que ele via.

Por que eles não olham? Por que só eu paro pra ver que tem alguma coisa errada com o céu?

O asfalto parecia mais escuro. Os postes não estavam acesos ainda, e a sombra do prédio se fundia com a névoa, como se algo estivesse crescendo ali dentro. Respirando.

A sacola estalou de novo.

Jonas fechou a mão com força ao redor dela, como se pudesse calar o som, a rua, o prédio — e até a própria cabeça.

Mas o silêncio ao redor era ainda mais perturbador.

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