Tudo começou com a neblina. Espessa, silenciosa, tomou o prédio sem aviso, abafando os sons da cidade e apagando qualquer noção de tempo. Trancados entre paredes que antes pareciam familiares, os moradores começam a perceber pequenas distorções na realidade — ruídos que não têm origem, reflexos que não acompanham os movimentos, presenças que se sentem mesmo em cômodos vazios. Com o passar dos dias, a fronteira entre o real e o imaginário começa a ruir. Alguns afirmam ter visto zumbis vagando pelos corredores. Outros, criaturas de olhos negros e pele translúcida, observando da escuridão. O medo coletivo cresce, mas é o silêncio dos que acreditam estar despertando para uma verdade oculta que mais assusta. Altares surgem onde antes havia concreto. Portais se abrem, convidando. Será a loucura uma fuga ou a única resposta sensata? E se o prédio em si for mais do que estrutura — um limiar entre mundos, uma armadilha para as mentes mais frágeis? No fim, talvez o verdadeiro terror não esteja lá fora... mas dentro de cada um deles.
Ler maisJonas pegou a foto rasgada mais uma vez e aproximou dos olhos. A imagem estava gasta, mas os rostos ainda eram parcialmente reconhecíveis. Ele conhecia dois deles: a mulher que parecia ser Tereza — agora desacordada em seu apartamento — e o outro era o próprio Victor Almeida, de quando ainda estavam na faculdade.O terceiro rosto masculino lhe era familiar, mas ele não conseguia encaixar o nome. O quarto rosto — uma mulher de cabelo curto, expressão dura, com um colar de pedra negra — ele jamais tinha visto antes. No canto inferior da imagem, uma data quase apagada: 28 de outubro de 1988.No fundo da imagem, além do prédio antigo, havia algo pintado em uma parede: um símbolo circular, semelhante ao que ele vira anos atrás na caverna da praia. A semelhança o fez apertar mais forte a foto, o coração disparado. Aquilo não era coincidência.Continuando a investigação, ele encontrou outra imagem — esta bem mais recente. Estava dentro de um envelope com a borda colada por uma fita amarela.
Jonas se sentou no canto do cômodo, entre caixas abertas e folhas espalhadas, apoiando os cotovelos nos joelhos. O silêncio ali dentro era tão denso quanto a névoa do lado de fora. Seus pensamentos, porém, gritavam dentro da cabeça.“Essas coisas não podem estar separadas... têm que estar ligadas.”Começou a organizar tudo mentalmente, como se falasse consigo mesmo:— Primeiro foram os moradores. Eles... mudaram. Viraram algo que parece morto, mas se move, reage. Mas se aquilo fosse só uma infecção, um vírus, então por que um ritual reverteria? Queimar o nome da vizinha a trouxe de volta... Não faz sentido biológico. É outra coisa. Mais antiga.— Aí tem o ritual do nome. Lembro da minha amiga congelando o nome do professor... e ela ficou mal depois. Algo foi drenado dela. E eu... também senti isso. Como se uma parte de mim estivesse sendo trocada por outra coisa. Mas trocada com o quê?Ele ergueu os olhos para a caixa antiga com os objetos que pareciam de outro tempo.— A máquina na c
Contexto e ProtagonistaJonas, um homem marcado por traumas do passado, incluindo problemas mentais e experiências estranhas na juventude, se vê preso dentro de um prédio na região central de São Paulo, em novembro de 2025. O edifício está sem energia elétrica e tomado por uma atmosfera estranha, com neblina densa e fenômenos incomuns. Zumbis começaram a aparecer, e Jonas tenta entender o que está acontecendo.Eventos Recentes No apartamento da vizinha:Ele encontra a vizinha transformada em zumbi no corredor e, em defesa, usa um cano.Se esconde e depois investiga os apartamentos, achando objetos estranhos: uma foto ritualística de um homem, um diário e uma caixa antiga.A caixa o faz lembrar de um professor do colégio, que ensinou sobre um ritual com nomes congelados. O RitualJonas se recorda de uma amiga de infância que havia congelado o nome de um professor no congelador. Isso parece ter algum poder misterioso.Ele realiza o ritual invertido (queimar o nome da vizinha), o que a
Jonas recolheu os papéis e os guardou com cuidado em uma pasta velha que encontrou na estante. Levantou-se e atravessou o apartamento silenciosamente, guiado apenas pelo barulho leve de seus passos e o rangido da madeira velha sob seus pés. Ainda havia um corredor estreito à esquerda da sala, com uma porta entreaberta ao fundo — o último cômodo que ele ainda não havia investigado.A luz natural que entrava pelas janelas era fraca, tingida pela neblina esbranquiçada que parecia persistir no ar do prédio. O corredor tinha cheiro de coisa antiga e guardada, um aroma de mofo e papel úmido. Conforme se aproximava da porta, sentiu novamente aquela pressão no ar, um incômodo leve e inexplicável, como se estivesse prestes a interromper algo que dormia.Jonas empurrou a porta devagar. O cômodo era pequeno, possivelmente um antigo escritório ou sala de leitura. Havia uma poltrona rasgada encostada junto a uma escrivaninha repleta de objetos — pilhas de cartas amarradas com barbante, um relógio
Jonas recuou, lançando um último olhar desconfiado para o alçapão encoberto. Aquilo podia esperar. O tempo era curto, e ele precisava reunir os elementos certos para o ritual — antes que o Pesador ou o que quer que fosse aquela presença voltasse a se manifestar.Com passos apressados, mas ainda silenciosos, ele retornou ao apartamento onde havia deixado a vizinha desacordada. Trancou a porta atrás de si e deixou o colar com a pedra azul sobre a mesa, como se aquele objeto carregasse alguma presença que ainda pulsava.Lembrou-se do que precisava:O nome completo do Pesador.Um tipo específico de papel — possivelmente algo orgânico ou antigo.Uma caneta azul.Algo que pudesse congelar ou conservar o ritual.E o mais difícil: intenção. A energia certa.Foi até a cozinha. Vasculhou gavetas e encontrou papéis antigos, guardanapos encardidos, folhas de caderno... até que, num canto da última gaveta, achou um bloco de anotações encapado com couro fino. As folhas ali dentro eram porosas, quas
Jonas se congelou por um instante.O som tinha vindo do quarto ao lado — não o que ele já havia vasculhado, mas outro, cuja porta estava entreaberta, como se alguém tivesse acabado de passar por ela. A luz fraca da tarde, filtrada pela neblina densa lá fora, mal chegava até ali.Com o coração acelerado, ele pegou um dos potes de vidro — o mais pesado — e foi em silêncio até a porta.Empurrou devagar.O cômodo estava escuro, mas não completamente. Havia um abajur antigo ligado, oscilando uma luz amarelada e trêmula. O quarto parecia um escritório adaptado — uma escrivaninha, estantes, uma cadeira giratória com o estofado rasgado.Jonas entrou.O chão rangeu.— Tem alguém aí? — ele sussurrou, já sabendo que não teria resposta.Nada.Mas o abajur... ele não estava ligado da última vez que passara por ali. Alguém o havia acendido.Caminhou até a escrivaninha e viu um caderno aberto. As páginas pareciam recentes. Escritas com uma caneta azul. Na última folha:"O peso vai se aproximando qua
Último capítulo