O lobo rosnava baixo, como se reconhecesse as figuras diante de Elara, mas não as aprovasse. As três mulheres estavam paradas em silêncio, encapuzadas, com mantos longos que pareciam feitos da própria noite. Nenhuma sombra as tocava — como se fossem as próprias donas da escuridão.
A que estava no centro ergueu o capuz. Era jovem. Mas seus olhos eram antigos, tão antigos quanto o tempo. — Elara — disse ela, com uma voz firme e suave. — Você nos ouviu. E respondeu. Elara deu um passo à frente, ainda segurando a pedra negra contra o peito. O pingente da avó balançava em seu pescoço. A marca em seu braço agora ardia como se estivesse viva. — Quem são vocês? — Somos as Irmãs da Noite. Guardiãs do Limiar. Filhas da Senhora dos Caminhos. — Ela se aproximou. — E você... é uma de nós. Elara hesitou. Olhou para o lobo. Depois para as mãos. Sentia algo diferente em sua pele, nos ossos. Como se uma parte adormecida estivesse despertando, lenta e irreversivelmente. — O que querem de mim? — Nada que já não seja seu por direito. — A bruxa à esquerda falou agora, mais velha, com voz rouca. — Você foi selada quando nasceu. Mas o selo foi quebrado. Sua alma voltou a chamar a Noite. — E a Noite respondeu. — disse a terceira, a mais silenciosa das três, que carregava um livro preso por correntes. Elara engoliu em seco. — E se eu recusar? — Recusar é morrer ignorando quem você é. Aceitar é viver com os olhos abertos... mesmo que eles ardam. — A jovem bruxa estendeu a mão. — Mas a escolha ainda é sua. Por enquanto. O lobo se adiantou, rosnando mais forte. Elara o olhou. — Eu... tenho que fazer um pacto, não é? A jovem assentiu. — Sim. Com sangue e com verdade. Sem mentiras. Sem volta. A mais velha tirou uma adaga fina, de prata escurecida. Estava decorada com inscrições lunares e olhos talhados no cabo. — A lâmina de Hécate. Só ela pode selar ou libertar. O silêncio era espesso. O mundo parecia conter a respiração. Elara fechou os olhos. Ela vira o que estava escondido. Sentira o peso de sua origem. A avó havia tentado protegê-la, mas esconder uma herança não a destrói. Apenas a adia. E o atraso havia acabado. Ela estendeu a mão. — Estou pronta. A bruxa mais velha cortou a palma da mão de Elara. O sangue caiu na terra seca da clareira e fumegou. Depois, as três bruxas fizeram o mesmo — cada uma deixando seu sangue cair ao lado do dela, formando um símbolo antigo no chão. Um círculo quebrado por três linhas — como uma encruzilhada. Elara sentiu o calor subir por suas pernas, como se a terra a aceitasse. O lobo deitou-se ao lado do círculo. Seus olhos brilhavam como brasas. Então, a mais jovem das bruxas falou, recitando: — Pela Lua Nova, que oculta. Pela Lua Cheia, que revela. Pela Lua Minguante, que recorda. Nós te chamamos, Elara. Filha do limiar. Filha da sombra. Filha da escolha. O vento soprou de repente. As árvores se curvaram. O céu pareceu se apagar por um instante. E então... algo entrou nela. Uma presença. Uma lembrança. Uma sensação que não era dela, mas também era. Uma força ancestral, que vinha do sangue, do osso, do útero da Noite. Ela caiu de joelhos. Arfava. Mas não estava com medo. Estava desperta. Quando abriu os olhos, estavam diferentes. Reflexos prateados dançavam nas íris. O mundo ao redor parecia mais... nítido. Mais vivo. E mais sombrio. As bruxas a observavam com respeito. — Agora — disse a mais velha — você pode ver. — Ver o quê? A bruxa apontou para a floresta. Elara se virou. E então viu. Criaturas escondidas entre as árvores. Figuras encapuzadas que antes pareciam sombras, mas agora tinham forma. Espíritos curvados em dor. Mulheres com bocas costuradas. Animais com olhos humanos. — O véu... caiu? — Não. Mas para você, ele está fino. Você pode atravessar. E ser atravessada. Elara estremeceu. — Isso... é para sempre? — Até que o ciclo feche. Ou que você quebre a roda. O lobo se ergueu. O livro que a bruxa silenciosa carregava se abriu sozinho. As páginas viraram, até parar numa folha em branco. Ela entregou a pena a Elara. — Escreva seu nome. Elara hesitou. Então escreveu. Elara, filha da encruzilhada. A tinta era seu sangue. As letras pulsavam. — Agora — disse a jovem — começa a verdadeira jornada. Você precisa encontrar os Três Sinais da Noite. Sem eles, o pacto se desfaz. E você será caçada. — Por quem? — Pelos que devoram os filhos da deusa. — E onde encontro os sinais? — O primeiro está no lugar onde sua avó morreu. O sangue de Elara gelou. — Mas... a casa foi destruída. Incêndio. — As cinzas guardam o que o fogo não pôde consumir. Elara assentiu. — E os outros dois? — Um está no espelho que nunca reflete. — E o último... está no coração de quem você mais teme. Elara guardou o livro. O lobo caminhou ao seu lado. As bruxas voltaram à floresta sem fazer som. Mas antes de desaparecerem, a mais jovem disse: — Há outra como você. — Foi marcada. Mas escolheu fugir. — Ela virá. E será amiga... ou inimiga. Elara sentiu um arrepio. — Como saberei? — Ela trará o símbolo da lua... mas virado ao contrário.