O confronto no véu entre os mundos era um turbilhão de luz e sombra. Elara sentiu as garras do Devorador tentando arrancar a essência dela, mas Lys e o lobo não a deixaram sozinha, atacando ferozmente as sombras que tentavam engoli-los.
No meio do combate, o espelho em seu peito começou a emitir um brilho intenso e pulsante, como se quisesse revelar algo importante. — Concentre-se no espelho! — gritou Hécate, a voz firme no caos. Elara fechou os olhos por um instante, buscando dentro de si a força que a deusa havia lhe concedido. Imagens começaram a surgir no espelho: fragmentos de sua infância, momentos felizes e dolorosos, rostos que ela pensava ter esquecido. Então, uma imagem brilhou mais forte que as outras: sua mãe, jovem e cheia de esperança, segurando um amuleto — o mesmo símbolo da chave que Elara carregava. — Ela tentou proteger algo — murmurou Elara, tocando a marca no braço — algo que pode mudar tudo. Hécate aproximou-se, seu olhar grave. — A chave não é apenas um objeto — disse — é um vínculo entre gerações, uma promessa e uma responsabilidade. Lys, ainda em guarda, acrescentou: — Precisamos entender essa promessa para derrotar os Devoradores. O lobo latiu em alerta, sinalizando a aproximação de novas sombras. Mas Elara sabia que aquela luta era apenas o começo. Era preciso ir mais fundo, desvendar segredos enterrados no passado para garantir um futuro. Com um aceno de cabeça, ela disse: — Vamos seguir o caminho que o espelho nos mostrar. E assim, o grupo avançou por entre memórias vivas e sombras dançantes, rumo ao próximo capítulo de sua jornada. O caminho à frente se desdobrava como um pergaminho antigo, revelando imagens e sons do passado que pareciam se misturar ao presente. O véu entre os mundos era uma tapeçaria viva, e cada fio carregava uma história. Elara sentiu o peso dessas histórias em seus ombros, mas também uma chama renovada de coragem. O espelho pulsava como um farol, guiando-os por corredores feitos de luz e sombra. — Por aqui — disse Hécate, conduzindo o grupo até uma clareira onde o tempo parecia parado. No centro, uma mesa rústica coberta por cartas antigas e pergaminhos espalhados. — Estes são os vestígios da verdade que procuramos — explicou a deusa. Lys pegou um pergaminho e começou a ler em voz alta: "Na noite em que o véu foi tecido, uma promessa foi feita: a chave uniria os mundos e libertaria a luz aprisionada. Mas o preço seria alto, e muitos tentariam impedir que essa luz renascesse." Elara olhou para os outros, entendendo finalmente a magnitude da missão que carregava. — Minha mãe sabia disso tudo — disse, a voz embargada — por isso ela se sacrificou para esconder a chave. O lobo rosnou baixo, alertando para a chegada de algo sombrio. — Não temos muito tempo — avisou Hécate. De repente, uma sombra mais densa que as outras surgiu, revelando-se o verdadeiro líder dos Devoradores — uma figura imponente com olhos de fogo e uma aura de poder. — Vocês não passarão — declarou com voz que parecia rasgar o véu — este véu permanecerá intacto, e a escuridão reinará. Elara sentiu a marca no braço arder com intensidade. — Nós lutaremos até o fim — respondeu firme. A batalha final estava próxima. O destino dos mundos dependia daquela luta. A sombra imponente avançava, seus olhos flamejantes iluminando o véu como brasas vivas. Elara sentiu a marca no braço pulsar com uma força que quase a derrubava, mas sua determinação era mais forte. — Você não entende o que está em jogo — falou a criatura, com voz que parecia ecoar em várias dimensões ao mesmo tempo — o véu foi criado para manter o equilíbrio. Se você quebrar essa barreira, caos e destruição se espalharão. Elara respirou fundo, sentindo a presença de Hécate ao seu lado, uma luz tênue e poderosa. Lys rosnava, pronto para defender até o último suspiro. — Não estou aqui para destruir, mas para libertar — disse Elara, a voz firme — para que a verdade possa florescer e a luz vença as sombras. O espelho no seu peito brilhou com uma intensidade quase cegante. De dentro dele, uma onda de energia se espalhou, envolvendo o véu, as sombras e até mesmo a criatura. Num instante, as memórias retorcidas começaram a se dissolver, revelando uma paisagem serena e iluminada. A escuridão não desapareceu, mas foi domada, integrada. A criatura recuou, seus olhos perdendo o fogo, transformando-se numa figura humana que sorriu com gratidão. — Você escolheu a luz do entendimento, não a guerra — disse ela — e com isso, o véu poderá ser desfeito, não com conflito, mas com equilíbrio. Hécate aproximou-se de Elara, tocando seu ombro. — Sua jornada só começou, mas você já provou ser digna da chave. O equilíbrio entre luz e sombra é o caminho para a verdadeira liberdade. Elara olhou para Lys, para o lobo que sempre esteve ao seu lado, e então para o horizonte onde a floresta começava a despertar com os primeiros raios de sol. — Estamos prontos para seguir em frente — disse, com esperança renovada. E assim, entre luzes e sombras, terminou um capítulo — e começou outro, na eterna dança do equilíbrio.