A floresta parecia mais viva — ou mais ciente — agora que Elara havia feito o pacto. Cada passo que dava com o lobo ao seu lado era seguido por sussurros ocultos, olhos que espiavam entre as folhas, galhos que se curvavam em direção a ela como se reconhecessem sua linhagem.
Ela não era mais só Elara. Era Elara, filha da encruzilhada. E estava sendo observada pelo mundo invisível. A noite se arrastava espessa enquanto seguiam em direção às ruínas da antiga casa da avó. O lugar onde tudo começara. O fogo havia destruído a estrutura, mas não os ecos. Quando chegaram, a clareira onde ficava a cabana ainda estava coberta de cinzas endurecidas. O solo tinha cheiro de carvão e lembranças. As paredes de madeira agora eram apenas sombras de fuligem no chão. Elara ajoelhou-se perto do que antes fora o altar da avó. Sinais antigos ainda estavam ali, gravados em pedras que resistiram ao calor. Um círculo de proteção queimado, mas não apagado. O lobo farejava ao redor, inquieto. Elara tocou o chão. E ouviu. Vozes abafadas. Risos. Um canto antigo — o mesmo que sua avó cantarolava enquanto preparava ervas. A magia estava ali, soterrada pelas cinzas. Esperando ser despertada. Ela retirou o pingente do pescoço e o pressionou contra a terra. A marca em seu braço brilhou. As cinzas tremeram. Do centro da clareira, surgiu algo. Não uma planta. Não uma pedra. Era... um espelho. Circular. Com moldura de ferro em forma de serpentes entrelaçadas. O vidro era negro, como obsidiana líquida. Não refletia nada — nem a lua, nem a própria Elara. Ela o segurou com cuidado. O lobo rosnou ao vê-lo. — O espelho que não reflete — sussurrou Elara. — O segundo sinal. Mas antes que pudesse guardar o objeto, algo se moveu. Um sussurro mais forte. Um arrepio. Um vento gélido que não vinha de lugar nenhum. E então... uma figura. Não feita de carne. Nem de sombra. Era como névoa com olhos. Olhos iguais aos de Elara. A figura se aproximou. Seu rosto parecia... familiar. Como um reflexo distorcido. Ou uma lembrança esquecida. — Quem é você? — Elara perguntou, erguendo o espelho. A figura não respondeu com palavras. Ela gritou. Um grito que não fazia som, mas atravessava os ossos. O espelho vibrou. O lobo uivou, lançando-se contra a névoa — mas atravessou-a como se fosse vento. A figura avançou para Elara. Ela recuou, instintivamente, e ergueu o espelho entre elas. A névoa parou. Tremeu. E foi sugada pelo vidro negro. Como água por um buraco. O espelho agora pulsava em suas mãos. Vivo. Como se tivesse engolido algo que nunca deveria ter saído. Elara caiu de joelhos, ofegante. O lobo a observava. Agora... mais próximo. Mais protetor. — O que foi isso? — sussurrou. E, no fundo da floresta, alguém respondeu: — Foi um eco do que você poderia ser... se seguisse o caminho errado. Elara se virou. Uma mulher estava ali. Encapuzada. Sozinha. Com um símbolo da lua no pescoço — virado ao contrário. Era como se o tempo parasse quando ela se aproximou. — Você é a outra marcada — disse Elara. A mulher assentiu. — Sou a que fugiu. Mas não posso mais correr. O silêncio entre elas era pesado como ferro. O lobo se mantinha imóvel, mas pronto. — Por que está aqui? — Porque precisamos falar — respondeu a mulher. — Antes que os que nos caçam cheguem. — Os Devoradores? Ela assentiu. — Eles já sabem de você, Elara. A cada passo que dá, a trilha se acende para eles. Você os atrai... e os confronta. Sem saber. — E você... está do meu lado? A mulher hesitou. Então tirou o capuz. Seus olhos eram iguais aos de Elara. Mas havia algo quebrado neles. Como se parte dela tivesse morrido por dentro — ou sido arrancada. — Se estiver disposta a me ouvir... sim. Elara apertou o espelho contra o peito. — Fale. A mulher deu um passo adiante. — Eles vêm à noite, pelos sonhos. Sussurram mentiras como se fossem verdades. Usam rostos conhecidos. E uma vez que entram... eles deixam marcas. Cortes que não cicatrizam. Eu vi minha irmã ser levada. E não pude impedir. — E você quer impedir que aconteça de novo? — Quero impedir que aconteça com você. Elara estudou o rosto dela. Não confiava ainda. Mas também não a rejeitava. — Você tem um nome? A mulher hesitou. — Me chamavam de Lys. O nome ressoou algo antigo dentro de Elara. — Então, Lys... o que fazemos agora? Lys olhou para o céu. A lua estava sangrando. Um eclipse. — Corremos. E ao longe, no limite da floresta, os olhos começaram a surgir. Olhos que não piscavam. Olhos que vinham famintos.