O café do hospital era pequeno, com luz fria e cheiro de pão amanhecido misturado ao de desinfetante. Ethan escolheu uma mesa no canto, afastada da movimentação. Precisava de silêncio para organizar os próprios pensamentos, mas era Miguel quem estava à sua frente, e Miguel nunca foi sinônimo de silêncio.
 Miguel deu um gole generoso no café, fez uma careta e soltou um riso baixo.
 MIGUEL: Sabe o que é engraçado, Ravelli? Você entra naquele quarto achando que vai mandar, e a garota… pá! Te desmonta como se fosse nada.
 Ethan passou a mão pelo rosto, respirando fundo. Não respondeu.
 MIGUEL: Nunca vi você perder o controle assim. Nunca. Cara, você está de quatro por ela. Assuma logo.
 Os dedos de Ethan se fecharam ao redor da xícara. Ele manteve o olhar fixo no líquido escuro, como se pudesse afogar a raiva ali.
 ETHAN: Miguel… Cala a boca!
 A voz dele saiu baixa, carregada de ameaça.
 Mas Miguel sorriu mais largo, como sempre fazia quando via uma brecha.
 MIGUEL : Ah, qual é. É bonito