Capítulo 04

Corri para o ponto de ônibus mais próximo, abraçando a bolsa contra o corpo como se ela pudesse me proteger do infortúnio. Porque, claro, a recém-formada aqui ainda não tinha dinheiro para um carro em Manhattan, isso era luxo para quem já tinha vendido a alma ou pelo menos metade dela.

“Mas tudo bem, Ella… respira. Você só tem um chefe que parece ter saído de um filme de máfia e, para melhorar a sua sorte, ele também é seu professor."

Resmungava enquanto corria até o ponto de ônibus.

Olhei para o céu. Em menos de um minuto, o azul virou cinza, depois preto. E, como se o universo tivesse ouvido minha ironia e decidido colaborar com a piada, caiu um dilúvio digno de cena apocalíptica.

O primeiro raio iluminou a rua, e eu ali, encharcada, segurando o celular para ver quanto tempo faltava para o ônibus. A resposta foi um soco no estômago: 15 minutos.

“Ótimo. Só quinze minutos sendo lentamente transformada em um picolé humano."

Minha blusa grudava no corpo, o cabelo já não tinha forma, e o rímel provavelmente estava escorrendo como se eu tivesse acabado de sair de um filme dramático.

Quando finalmente o ônibus chegou, parecia mais um aquário ambulante. Gente espremida, vidros embaçados, e um cheiro de chuva com desespero.

“ Eu não nasci para viver assim… Será quando meu destino vai me surpreender com algo bom?”

Porque, claro, a próxima cena do meu dia era uma sala de aula com Ethan Ravelli, versão professor. Meu chefe. Meu torturador de cláusulas. E agora… meu mestre acadêmico.

“Parabéns, Ella. Você desbloqueou o nível Inferno Corporativo Universitário. Próxima fase: sobreviver sem desmaiar quando ele olhar na sua direção.”

O ônibus andava devagar, a chuva castigava lá fora, e cada minuto me atrasava ainda mais da aula que prometia ser a cereja do bolo no dia mais caótico da minha vida.

ETHAN: Senhorita Fontana, eu sugiro que dê meia volta. A aula já começou a vinte minutos, não pretendo repetir a introdução.

A voz de Ethan me atingiu assim que empurrei a porta.

“Me atrasei por causa da tempestade, senhor! Não precisa repetir a introdução, eu pego com a Lia depois.”

ETHAN: Senhorita se retire da minha sala! Não irei admitir atrasos. Por favor!

Ele abriu a porta e apontou para que eu saísse. Eu me contive por um…dois…três, mas não deu.

“ Você é um monstro usando terno! Eu saí do escritório e fui direto para o ponto de ônibus… eu não tive um bom dia, porque meu chefe é um escroto medido a advogado. ESTOU CANSADA!”

LIA: Ah meu Deus, ela surtou de vez! ELLA… com licença professor.

As minhas lágrimas se misturam com o molhado da chuva. Eu estava prestes a matar Ravelli com minhas próprias mãos quando Lia me puxou pelo braço.

LIA: Fique calma, está caindo na dele!

“ Eu odeio esse homem! Ele me torturou o dia todo, me vigiou… ele sabe que eu saí agora pouco do escritório dele. Lia eu li um monte de processos, dei conta de todo o trabalho, é óbvio que eu ia me atrasar!”

Lia desesperada com meu surto me acompanhou até a entrada da universidade. Já não chovia tanto. O sol estava aparecendo tímido, e eu estava decidida a jogar o joguinho de Ethan Ravelli.

“ Ele vai me pagar por todo aborrecimento.”

LIA: O que vai fazer Ella? Pelo amor de Deus não vai arrumar mais confusão!

Caminhei direto até o estacionamento da universidade. Havia um espaço destinado às vagas exclusivas dos docentes.

“Qual deve ser o carro dele Lia?”

Ela estava paralisada, ofegante e se tremendo toda.

LIA: Não faz isso… isso não é certo, Isabella Fontana.

Caminhei entre vários carros até me deparar com um Mustang preto.

“ Só pode ser esse. Nenhum professor séria exibido a ponto de vir com um Mustang para a universidade, com exceção do senhor escuridão.”

LIA: Eu vou vomitar… vamos ser presas!

Abri minha bolsa e peguei uma caneta. Tirei a tampa dos pinos dos pneus e com a ponta da caneta apertei até murchar todos os pneus. Os quatros arriados. Não satisfeita chutei o retrovisor até ele cair no chão.

“Agora corre Lia, ou vão nos pegar.”

LIA: Meu Deus Ella, isso é vandalismo! Duas advogadas formadas querendo conquistar um lugar de prestígio… fazendo isso?

Ela falava ofegante. Saímos do pátio da universidade e paramos num ponto de ônibus próximo.

Cansada me sentei com as mãos no peito. O meu coração batia tão rápido que parecia sair pela boca.

“ Eu sei… não é certo e muito infantil da minha parte, mas em minha defesa, aquele homem não me faz ser normal. Ele consegue mexer com meu emocional e eu simplesmente perco o raciocínio.”

LIA: Será que não está se apaixonando por ele?

“ Nem se ele fosse o último homem no mundo. Ethan Ravelli é um ser nojento e desprezível. Jamais me apaixonaria por alguém assim.”

Foi a coisa mais estúpida que disse naquele dia. Fomos para casa. Lia não tinha condições de voltar para aula depois do ocorrido, e ela estava com muito medo da reação de Ethan Ravelli quando visse seu carro.

Na universidade, o senhor escuridão ministrou sua aula lindamente. Quando saiu teve uma surpresa.

ETHAN: O que aconteceu aqui? Ei segurança… você viu quem fez isso com o meu carro?

SEGURANÇA: Não senhor! Eu acabei de entrar no meu turno.

Ethan olhou ao redor procurando algo, e então viu a câmera de vigilância bem acima da sua cabeça.

ETHAN: Envie as imagens dessa câmera para o meu e-mail. Quero saber quem foi… Mas acho que sei quem teve essa audácia. Só existe uma pessoa capaz de fazer isso.

Enquanto o senhor escuridão começava a viver seu primeiro perrengue do dia, eu me relaxava com a água quente do chuveiro.

O vapor do chuveiro ainda rodopiava pelo banheiro quando enrolei a toalha no corpo e segui para o quarto.

LIA: Eu ainda não acredito que você murchou os pneus do carro dele. E quebrou o retrovisor! Ella, isso é sério. Ele vai descobrir. Você destruiu o carro dele.

“Não vai. Manhattan é cheia de criminosos mais interessantes do que eu. E, sinceramente, se ele olhar para as câmeras… bom, eu já planejei minha defesa mental: insanidade temporária causada por excesso de contratos.”

Ela bufou, sem conseguir rir, e se levantou da cama, indo em direção ao quarto dela.

LIA: Você está obcecada por esse homem. Não adianta negar.

“Obcecada? Lia, por favor! O Ravelli é… um monstro com terno italiano sob medida. Dominador, estrategista, um manipulador nato. Ele fala pouco, mas quando fala parece que está movendo peças de um tabuleiro invisível. E a pior parte? Ele é brilhante. Tem uma mente que… dá até medo.”

Lia parou na porta, me encarando.

LIA: O que eu estou ouvindo aqui é: você o odeia, mas respeita a inteligência dele. E isso é perigoso. Porque a linha entre respeito e atração é fina, amiga.

Revirei os olhos, pegando a pilha de documentos que tinha trazido do escritório.

“Lia, eu respeito a inteligência de tubarões também, mas não quero namorar um deles. Agora me deixa estudar isso aqui, porque se eu não me antecipar, amanhã ele me devora viva.”

Ela jogou as mãos para cima, desistindo da discussão, e foi para o quarto dela. A porta se fechou, e eu finalmente mergulhei nos papéis.

Havia algo de estranho naquele contrato. Um acordo com a Rossi Corporation, cláusulas sobre importação de produtos, movimentações financeiras… Tudo perfeitamente legal, mas tinha detalhes demais que soavam como fumaça encobrindo fogo. Datas alteradas, empresas de fachada no meio da transação…

“Meu Deus… isso aqui fede a máfia italiana mais do que restaurante em Little Italy.”

Meu coração disparou. Quanto mais eu lia, mais fazia sentido as piadinhas da Lia. Talvez o Ravelli não fosse apenas o homem mais controlador do planeta… talvez houvesse algo muito maior por trás.

Estava tão imersa que só voltei para a realidade quando o celular vibrou em cima da cama. Olhei e quase derrubei os papéis no chão.

ETHAN RAVELLI.

Meu estômago virou. O dedo hesitou antes de atender, mas quando atendi, a voz dele veio firme, grave, e sem espaço para negociação:

ETHAN: Preciso dos documentos que estão com você. O motorista está na porta do seu prédio. Desça e venha até meu apartamento. Nós três iremos discutir sobre ele.

A ordem caiu como um martelo na minha cabeça. Eu gaguejei:

“Eu não vou não! Não recebo para trabalhar à noite, está me ouvindo? Alô… ALÔ!”

Nada. Ele já tinha desligado. Eu olhei para o celular, incrédula, quando ouvi Lia gritar da sala:

LIA: O porteiro avisou que tem alguém te esperando… Você não disse que estava saindo com alguém?

“Não estou, Lia Watson. É o imbecil do Ravelli que me ligou dando ordens para ir até a casa dele. Ele quer discutir sobre trabalho comigo e o Miguel, uma hora dessas.”

Lia apareceu na porta arregalando os olhos, com a expressão de quem queria me trancar no quarto para salvar minha vida.

LIA: Você não vai. Diz que não vai, Ella!

Eu já estava abrindo o armário.

“Eu vou. Porque se eu não for, amanhã ele faz da minha vida um inferno pior do que já é.”

Peguei uma camiseta branca básica, calça jeans skinny e um tênis casual. Olhei no espelho e vi meu reflexo nervoso, as mãos trêmulas tentando ajeitar o cabelo. Eu estava indo para o covil do lobo, e sabia disso.

Quando desci, o carro estava parado na frente do prédio. Um sedã preto brilhando, vidros escuros, motorista de terno. O tipo de carro que grita poder e intimidação. Engoli seco e entrei.

O interior era um luxo sufocante: bancos de couro macios, cheiro de perfume caro, silêncio absoluto. Minhas mãos suavam. Meu coração batia tão rápido que eu sentia no pescoço.

“Respira, Ella… é só uma reunião. Uma reunião às nove da noite… no apartamento dele… depois de você destruir o carro do homem. Nada para se preocupar.”

O motorista não disse uma palavra durante todo o trajeto. Eu olhava pela janela, as luzes da cidade refletindo no vidro enquanto minha mente criava mil cenários: ele sabe. Ele viu as câmeras. Ele vai me matar.

Quando finalmente o carro parou em frente a um prédio altíssimo, com fachada de vidro e porteiros que pareciam agentes secretos, minhas pernas quase não obedeceram quando desci.

Olhei para cima. Lá estava eu, prestes a entrar na cobertura de Ethan Ravelli.

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