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Capítulo 7 – Chuva e Cicatrizes

O relógio marcava 2h40 da madrugada quando Elisa ouviu a porta da cobertura se abrir com força. O vento frio entrou junto com o cheiro inconfundível de uísque, perfume masculino e chuva.

Eduardo cambaleava, completamente encharcado. A camisa grudava no peito, o cabelo pingava sobre os olhos. O olhar perdido, a respiração irregular.

Ela correu até ele, assustada.

Eduardo?!

Ele a encarou por um segundo antes de rir, um riso amargo e rouco.

Olha só... a esposa perfeita ainda está acordada.

Você está bêbado — murmurou, tentando segurá-lo pelo braço. — E está gelado. Vai acabar ficando doente.

Já estou. Doente de tudo isso. De mim. De nós.

Ela ignorou. Passou o braço em torno da cintura dele e o conduziu até o quarto com esforço. O corpo dele pesava, mas ela não hesitou.

Ao deitá-lo na cama, percebeu que ele tremia. Estava com febre.

Meu Deus... sussurrou, ao tocar a testa dele. Está queimando.

Correu até o banheiro, trouxe toalhas, uma muda de roupa, remédio para febre e uma bacia com água morna. Sem pensar, sem esperar gratidão.

Porque, mesmo ferida, ela sabia cuidar.

Passou a noite ali, ao lado dele, trocando compressas e murmurando palavras baixas. Quase como se falasse com uma criança.

Até que, em meio ao delírio febril, ele murmurou algo.

Sophia…

Elisa congelou.

O nome pairou no ar como um punhal.

Ele repetiu:

Sophia… por que você foi embora…?

Elisa sentiu o peito apertar. As peças se encaixavam. Aquela frieza toda, aquele desprezo… não era só indiferença. Era uma ferida mal curada.

E ela estava pagando o preço.

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Quando o sol nasceu, Eduardo abriu os olhos com dificuldade. A dor de cabeça latejava, a garganta estava seca. Piscou várias vezes, tentando reconhecer o ambiente.

Ao virar o rosto, viu Elisa dormindo sentada na poltrona, com a cabeça tombada para o lado. Uma manta sobre as pernas e os cabelos soltos em desalinho. Os traços delicados pareciam ainda mais calmos na luz da manhã.

Ele franziu o cenho.

O que está fazendo aqui?

A voz soou áspera.

Ela despertou, os olhos ainda pesados. Assustada, levantou-se devagar.

Você chegou molhado, bêbado... com febre. Eu cuidei de você a noite toda. Estava delirando.

Ele se sentou devagar, massageando as têmporas.

Eu não pedi nada disso.

As palavras atingiram como pedras.

Elisa mordeu o lábio, engolindo a dor.

Eu sei. Mas você precisava.

Ele levantou os olhos, irritado.

Elisa, você não tem que agir como... como minha enfermeira. Isso aqui é um casamento de conveniência, lembra?

Ela respirou fundo. Manteve a compostura.

Eu só fiz o que qualquer pessoa decente faria. ... Virou-se para sair. ...Vou trazer algo pra você comer. Vai te ajudar com a ressaca.

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Dez minutos depois, ela voltou com uma tigela de sopa quente. Uma receita antiga, que ouvira dele mencionar de passagem: uma mistura simples de frango, alho, gengibre e arroz. A avó de Eduardo costumava fazer quando ele estava mal.

Ela a deixou sobre o criado-mudo.

Aqui. É a sopa que você disse que sua avó fazia. Pode ajudar.

Ele olhou para a tigela por um segundo. Depois pegou a colher e começou a comer, sem dizer uma palavra.

Ela observava de pé, esperando algum sinal. Um "obrigado". Um olhar. Qualquer reconhecimento.

Mas ao terminar, ele apenas largou a colher e murmurou:

Você não precisa se ocupar cuidando de mim. Isso não vai mudar nada entre nós.

As palavras cortaram como lâminas.

Ela se afastou, silenciosamente, segurando a dor no peito.

Eu sei ... respondeu com um fio de voz.

Saiu do quarto sem olhar para trás.

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No quarto dela, Elisa fechou a porta com cuidado e encostou-se à madeira fria. As lágrimas vieram, silenciosas, ardendo. Por mais que ela quisesse ser forte, aquilo doía. Não pela rejeição em si, mas por tentar... por fazer o melhor... e ser sempre tratada como nada.

Sentou-se à escrivaninha e abriu seu caderno de partituras. Precisava escrever. Precisava converter o que sentia em música. Era sua única válvula de escape.

Será que um dia ele vai gostar de mim?

Ou só enxergará Sophia em cada mulher que passa por sua vida?

Escreveu durante horas.

E quando parou, a última nota da página era um grito silencioso de tudo o que ela não podia dizer em voz alta.

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