O domingo amanheceu com uma luz suave entrando pela janela da cozinha. Helena estava acordada há horas, sentada à mesa com uma xícara de chá fria e o caderno aberto diante de si. As páginas estavam em branco, mas pela primeira vez, ela não sentia medo delas. Sentia respeito. Como quem encara um espelho pela primeira vez.
A noite anterior ainda pulsava em sua memória. Rafael, sentado ao seu lado, em silêncio. O abraço firme. O chá quente. A música baixa. A sensação de que, mesmo no caos, havia espaço para respirar.
A mãe continuava internada. O hospital ligara cedo, informando que o estado era estável, mas delicado. Helena agradeceu, desligou, e ficou ali, encarando o caderno. Sentia que algo dentro dela havia mudado. Não de forma explosiva, mas como uma brisa que muda a direção das folhas.
Pegou a caneta e escreveu:
> “Não sei quem sou.
> Mas hoje, quero descobrir.
> Nem que seja aos poucos.
> Nem que doa.”
Fechou o caderno com cuidado, como quem guarda um segredo precioso. Leva