Layla
A madrugada arrastou os móveis do meu peito até o amanhecer. Quando a luz da janela ficou branca, eu já tinha decidido duas coisas, trancar o apartamento com mais ferrolhos e passar o dia longe de qualquer pessoa que acreditasse saber o que é melhor para mim.
A primeira decisão foi prática. Liguei para o síndico, para um chaveiro, para a Bianca.
— Três fechaduras. — eu disse ao chaveiro — E uma corrente. E, se tiver, duas correntes.
Ele riu, profissional.
— “Tem medos que são melhores que os outros. Já te deixo segura.”
Bianca chegou antes do chaveiro.
– O que aconteceu? – ela perguntou, sem rodeios, o blazer por cima do pijama, o cabelo preso.
Eu mostrei a rosa e o bilhete. A testa dela vincou.
– Vou escrever um e-mail para mim mesma: “não matar ninguém antes do almoço”. – ela sussurrou, e depois ficou séria – Lay, isso é invasão. É crime. Quer registrar ocorrência?
– Eu quero que acabe.
– Nem sempre o registro faz acabar. Mas às vezes ajuda a desenhar uma linha. – Bianca me o