Entre dois mundos
O carro parou em frente à rua estreita. Dominic inclinou-se e colocou um celular preto na mão dela. O olhar era firme, como se cada palavra fosse uma ordem escrita em pedra.
— O número já está registrado. Sempre que tocar, você atende. Todas as vezes que eu chamar, você vem. Sem perguntas. Sem desculpas.
Valentina prendeu o ar, mas não discutiu. Apertou o aparelho nos dedos como se fosse uma algema invisível. Ele se recostou no banco, satisfeito, e o motorista não esperou instruções para abrir a porta.
O contraste ao atravessar a porta do apartamento foi quase cruel. Dos salões frios e calculados de Dominic para os vinte e sete metros quadrados que resumiam sua vida. Uma sala que se confundia com cozinha, um quarto estreito e um banheiro de azulejos gastos. Ali, cada móvel carregava a marca de improviso e sobrevivência.
Ela deixou a bolsa cair sobre o sofá desbotado e foi direto para o chuveiro. A água morna deslizou pelos ombros, arrancando o cheiro de gasolina