Elô acordou com a sensação de que algo havia mudado dentro dela. Seu quarto estava mergulhado em silêncio, mas o ar parecia denso, carregado de alguma coisa que não sabia nomear. Ao abrir os olhos, viu o teto e reconheceu o próprio quarto, mas demorou alguns segundos para lembrar quem era. Não como uma perda de memória — era mais como se estivesse dividindo a mente com outra consciência.
Sentou-se na cama devagar. Seus braços, suas pernas, seu corpo… tudo parecia seu, mas não inteiramente. Era como usar roupas emprestadas. Olhou-se no espelho e, por um instante, jurou ver outro rosto se formando atrás do próprio reflexo. Um rosto familiar, embora nunca o tivesse visto conscientemente. Olhos castanhos intensos, lábios cerrados, expressão triste. Clara.
Elô levou as mãos ao rosto e sacudiu a cabeça.
— Você não é real — murmurou. — Isso não está acontecendo.
Mas estava.
Nos dias que se seguiram, os sinais se intensificaram. Ela passou a falar palavras que não lembrava ter aprendido, a es