O inverno chegou devagar, como tudo que aprendia a existir no ritmo novo de Isadora. As manhãs vinham cobertas por uma névoa fina, e o rio, agora mais lento, parecia espelhar o céu nublado. A casa estava cheia de sinais de vida: o cheiro de pão no forno, o rastro das pegadas de Rafael na varanda, o farfalhar das folhas que o vento espalhava pelo quintal. O tempo deixara de ser um inimigo — tornara-se companheiro, um som de fundo constante e brando.
O que antes fora uma vida feita de urgências agora era uma sequência de gestos simples. Isadora acordava cedo, acendia o fogo, alimentava o cachorro e colhia as primeiras ervas que cresciam perto da cerca. As crianças da vila continuavam a aparecer aos sábados, trazendo livros emprestados e cadernos amassados. Sentavam-se em roda sob a mangueira, e ela ensinava com paciência: como ler devagar, como entender as pausas, como ouvir o silêncio que mora entre as palavras. Era um aprendizado duplo — ela lhes ensinava letras, e eles a ensinavam a