O calor da quarta-feira trazia uma estranheza abafada, como se a própria cidade estivesse prendendo a respiração antes de algo inevitável. Isadora acordou com o barulho distante das buzinas e o tilintar dos vidros da pensão. Levantou-se com a sensação de que aquele dia traria uma virada, não só porque Gabriel já estava exposto, mas porque homens assim não sabem cair em silêncio: eles arrastam o mundo consigo, na esperança de levar junto o que não podem mais dominar.
A manhã na livraria começou com movimento intenso. A notícia da investigação oficial se espalhava, e agora não eram apenas vizinhos e clientes: jornalistas, repórteres de rádio, até fotógrafos de revistas culturais apareciam para registrar o espaço que se tornara símbolo. O gerente, com um orgulho disfarçado de pragmatismo, oferecia entrevistas rápidas; Rafael cuidava de que nada fugisse do controle. Isadora, por sua vez, atendia as pessoas com calma, mas o coração estava em alerta.
Por volta do meio-dia, a primeira cartad