O sábado chegou com uma claridade intensa, quase agressiva, como se o sol tivesse decidido expor até os cantos mais escondidos da cidade. Isadora caminhava pelas ruas com o caderno na bolsa e a sensação de que algo se aproximava. Os últimos dias tinham lhe mostrado que, quanto mais a rede de apoio crescia, mais Gabriel perdia espaço — e que ele, incapaz de aceitar, buscaria um último disfarce para se manter no jogo.
Na livraria, o movimento era maior do que o normal. As vigílias culturais haviam transformado o espaço em ponto de encontro. Pessoas entravam não só para comprar, mas para estar ali, para participar do gesto de presença que se tornara coletivo. Estudantes colavam cartazes de poesia, uma artista deixava um quadro pintado com a praça iluminada por vozes, e até comerciantes do bairro apareciam com doações de cadeiras e mesas. Era como se o lugar tivesse se metamorfoseado em praça permanente, um pulmão de resistência.
Rafael circulava entre os clientes, mas o olhar dele perman