Capítulo 4 — A Noite da Verdade
E assim foi feito. Em dois meses, eu assumi as empresas com a assessoria das pessoas de confiança da minha mãe. Não havia espaço para festa, não havia clima para comemorações. Marquei meu casamento com Leon em segredo, em silêncio.
A cerimônia foi íntima, quase clandestina: apenas o avô dele, o advogado e duas testemunhas. Mais ninguém. Vesti o vestido que havia sido de minha mãe no dia em que se casara com meu pai. Era como se ela estivesse ao meu lado, me guiando. Nas mãos, um buquê de lírios brancos. Não houve bolo, não houve música, não houve nada além das palavras ditas diante do juiz.
Quando saímos, Leon me perguntou:
— Quer viajar em lua de mel?
Balancei a cabeça.
— Não, Leon. Eu perdi uma pessoa que amava. Não faz sentido viajar para celebrar, quando o meu coração ainda está de luto.
Ele assentiu, respeitoso, sem insistir.
Mas eu precisava ser honesta, precisava deixar claro o que eu tinha a oferecer. Então falei, encarando-o nos olhos:
— Só lhe peço paciência. Eu nunca estive com um homem antes. Eu sou virgem. Não sei como fazer essas coisas.
O silêncio dele foi pesado, mas não houve julgamento.
— Fiz todos os exames pré-nupciais — continuei, com a voz trêmula. — Estou ovulando. Se você não usar preservativo, acredito que engravidarei logo no primeiro mês. Se não, no segundo. Comecei a tomar hormônios para ajudar.
Respirei fundo.
— E depois disso… depois que confirmarmos a gravidez, você será um homem livre. Eu não vou prender você ao meu lado. Não vou lhe pedir amor. Eu aprendi a ser uma pessoa solitária, Leon. Eu vou amar apenas o ser que eu gerar. Isso basta para mim.
Ele me olhou demoradamente, mas não disse nada.
E assim, no meu apartamento, na cobertura que havia sido da minha mãe, celebramos o meu casamento. Não havia festa, não havia alegria espalhada pelos cantos — apenas uma união selada pelo destino e por um acordo antigo.
E naquela noite, ao fechar a porta atrás de nós, percebi que não sabia o que era uma noite de núpcias.
Eu, a herdeira do império da minha mãe, estava prestes a descobrir o que significava ser mulher.
A Voz de Leon
Pobre menina rica.
Ela não enxerga. Não percebe que eu a vi desde a primeira vez. Ivy acredita que estou me casando com ela apenas para cumprir um acordo entre nossos avós. No princípio foi isso, admito. Mas naquele jantar, quando ela tinha apenas dezoito anos, escondida atrás de óculos grossos, roupas largas e um gorro ridículo que tentava apagar sua luz… eu vi.
Vi a força por trás do disfarce. Vi a dignidade de quem preferia calar do que revidar às provocações da irmã. Enquanto Lilibet gritava, Ivy apenas respirava fundo, ignorava, erguia a cabeça do jeito que podia. E naquele instante, percebi: aquela garota mudaria a minha vida.
Exatamente três anos depois, nos encontramos de novo, para oficializar o noivado. Nunca imaginei que, mais uma vez, a irmã dela fosse armar um espetáculo, e que o próprio pai dela viesse a sucumbir ali, diante de todos.
E também não foi surpresa ver que a lagarta tinha se recolhido em um casulo durante esses anos… apenas para se transformar na mais bela borboleta que eu já vi na vida.
Minha borboleta.
Minha Butterfly.
Hoje é o nosso casamento. Intimista, sem festa, apenas com o peso do destino que nos une. E então, sem rodeios, ela me diz: “Sou virgem. Só precisamos gerar um herdeiro e, depois disso, você estará livre de mim.”
Coitada.
Ela não faz ideia do quanto está enganada.
Livre? Nunca.
Eu não vou deixá-la livre.
Vou cuidar da Ivy para o resto da minha vida. E, mais cedo ou mais tarde, vou mostrar a ela que o amor existe.
Leon, a Noite da Borboleta
Vou cuidar dela. Vou ensinar à Ivy o que é amar.
Não, eu não fiquei celibatário durante esses três anos. Nunca imaginei que fosse realmente me afeiçoar à minha noiva. Até poucos dias antes do casamento, eu tinha uma amante. Mas eu não sou trapaceiro. Rompi esse compromisso, encerrei aquela relação, porque hoje, ao casar-me, decidi que meu corpo e meu coração seriam dela.
Gostar dela, eu já gostava. Admiro-a desde o jantar, quando era apenas uma menina escondida atrás de disfarces. Amar… ainda não. Mas sei que não vai ser difícil me apaixonar. Ivy é como uma força da natureza. Ela não sabe, mas já me marcou para sempre.
E a partir de hoje, ela é a minha Butterfly.
Quando a levei para o quarto naquela noite, senti a tensão dela. Estava envergonhada, nervosa, sem jeito. Com mãos delicadas, fui desfazendo cada peça de roupa, revelando um corpo estonteante, que jamais imaginei que pudesse estar escondido atrás de roupas largas e óculos pesados.
Meus olhos percorreram cada curva — cintura fina, seios fartos, quadris generosos. Era uma obra-prima da vida. Ela tremia, mas não recuava.
Segurei seu rosto entre minhas mãos e a beijei pela primeira vez. Um beijo diferente de todos os outros que já dei. Não era desejo imediato, não era pressa. Era casto, puro, um beijo que pedia confiança.
Aos poucos, vi seus ombros relaxarem. O medo deu lugar a uma entrega tímida. Aproximei-me mais, guiando-a, mostrando que não havia pressa, que aquela noite era apenas dela.
E quando finalmente a amei, não foi como as outras mulheres que passaram pela minha vida. Foi intenso, profundo, verdadeiro. Ela se entregou como se aquele fosse o último suspiro de vida.
E naquele instante, compreendi. Eu estava perdido.
A borboleta que nasceu naquela noite não era apenas dela. Era minha também.