Início / Romance / ENTRE O ÓDIO E O DESEJO / Capítulo 4 – Sombras do Passado
Capítulo 4 – Sombras do Passado

Camila acordou sobressaltada.

O celular ainda vibrava com a última mensagem de Leonardo, como se sua presença se infiltrasse até nos sonhos dela. A claridade de Paris entrava pelas janelas do pequeno apartamento, mas mesmo o sol não conseguia dissipar o frio que apertava o peito dela.

Ela se sentou na cama, respirando fundo. Precisava manter o controle. Precisava se lembrar de quem era. Mas isso estava cada vez mais difícil desde que Leonardo reapareceu.

“Reapareceu...”

A palavra girava na mente dela como uma agulha girando numa ferida antiga.

Porque a verdade — a verdade que Camila escondia até de si mesma — era que ela já conhecia Leonardo Aragon.

Não pelo nome. Mas pelos olhos. Pela presença. Pela voz.

Ele era o homem da noite que ela passou tentando esquecer. O homem que entrou na sua vida anos atrás, em outra cidade, sob outro nome, e destruiu tudo que ela acreditava. Na época, ele a deixara com um coração partido... e com um segredo.

Um que ela jamais contou a ninguém.

Nem mesmo a Júlia.

No elegante café próximo ao Sena, Camila encontrou-se com Júlia e Enzo, que já esperavam em uma mesa afastada. O ar entre eles estava diferente. Menos provocativo, mais íntimo.

— Dormiu? — perguntou Júlia.

Camila assentiu vagamente.

— Um pouco. E vocês dois?

— Aparentemente, nós dois dormimos... pouco — respondeu Enzo, piscando para Júlia, que desviou o olhar, corada.

Camila ergueu as sobrancelhas.

— Alguma coisa que eu deva saber?

— Nada que uma moça decente deva ouvir — disse Enzo, sorrindo. Mas seus olhos mostravam um certo cuidado. Ele não era apenas o rebelde sedutor. Havia algo mais ali. Camila notou isso pela primeira vez.

— Enzo — ela disse, encarando-o — você conhece o Leo?

Ele tomou um gole de café antes de responder.

— Conheço. Todo mundo no nosso círculo conhece. O sobrenome dele é Aragon. E ele é mais perigoso do que parece.

Camila sentiu um arrepio.

— Por quê?

Enzo a observou por alguns segundos, como se decidisse o quanto contar.

— Porque ele nunca aparece onde não deve estar. E se está atrás de você, Camila, não é coincidência. É escolha. E, quando um Aragon escolhe, ele destrói.

Na mesma tarde, Camila caminhava pelos corredores de mármore do prédio onde Alexandre a havia convidado para uma exposição privada. Era um espaço exclusivo da família Marchand, usado para eventos culturais e negociações empresariais discretas.

Ela usava um vestido justo na cintura, com ares de sofisticação parisiense. Sentia-se mais forte, mais decidida. Não deixaria Leonardo controlá-la de novo.

— Impressionante, não é? — Alexandre apareceu ao seu lado, oferecendo uma taça de vinho branco.

— A arquitetura? Ou o fato de que você tem acesso a tudo isso?

— Os dois. Mas, sinceramente, prefiro o modo como você olha as obras.

Camila sorriu.

— Está me paquerando?

— Tentando te entender — ele corrigiu, com honestidade nos olhos. — Tem algo em você que me intriga.

Ela hesitou.

— E se eu for mais confusão do que você imagina?

— Eu gosto de desafios. — Ele se aproximou. — Posso te beijar?

Camila foi pega de surpresa. Não por ele querer. Mas por ela querer também.

Mas antes que pudesse responder, a porta de vidro se abriu com um estalo forte.

Leonardo.

— Que cena... poética — disse ele, com a voz calma e os olhos de tempestade.

Alexandre virou-se.

— Está nos seguindo?

— Vim buscar o que é meu.

Camila se aproximou, furiosa.

— Eu não sou sua.

— Ainda não — respondeu ele, olhando-a de cima a baixo, como se cada curva dela fosse uma promessa feita só para ele.

Alexandre se colocou entre os dois.

— Você passou dos limites.

Leonardo apenas riu.

— E você acha que tem alguma chance? Não vê que ela está brincando com você? Que ela sente algo... muito mais profundo?

— Você não sabe nada sobre mim — respondeu Camila, com a voz firme. Mas por dentro, tudo tremia.

Leonardo se aproximou dela, como se o mundo ao redor desaparecesse.

— Eu sei que você sonha comigo todas as noites. Sei que você acorda querendo me odiar... e termina o dia imaginando como seria se me deixasse encostar em você de novo.

Camila corou, furiosa, mas o corpo reagia. O cheiro dele, a proximidade, os olhos... era como estar de volta àquela noite proibida que mudara sua vida.

— Vai embora — sussurrou ela, tentando não fraquejar.

Ele se inclinou até o ouvido dela.

— Você tem até amanhã pra me procurar. Senão, vou fazer o que faço de melhor: acabar com tudo que toca em você.

Quando ele se afastou, Alexandre se aproximou.

— Você precisa contar a verdade. Quem ele é?

Camila não respondeu.

Porque a verdade era perigosa demais.

Na noite seguinte, Camila foi até a ponte onde Leonardo havia deixado a primeira mensagem.

Ele a esperava.

— Eu sabia — disse ele, quando a viu.

— O que você quer de mim, Leonardo?

Ele estendeu a mão, com um envelope.

— Seu passado. Está tudo aqui. A verdade que você enterrou.

Ela pegou o envelope, as mãos tremendo.

Quando abriu, viu a primeira foto.

Ela. Grávida.

Sozinha.

E uma segunda imagem.

O bebê nos braços de uma mulher desconhecida.

Camila caiu de joelhos.

Leonardo se abaixou.

— Você me deixou sem escolha. Agora, você vem comigo... ou todos vão saber.

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