31. VERDADES ENTERRADAS
Dois dias se passaram desde aquela noite maldita.
Deise caminhava lentamente pela varanda da casa de Miguel, seus pés descalços tocando o piso de madeira fria enquanto o vento suave da manhã acariciava seus cabelos. Os olhos, antes vibrantes, agora pareciam turvos, perdidos em um labirinto de pensamentos que se cruzavam sem fim. Ela tentava se lembrar dos detalhes, tentava montar as peças daquele quebra-cabeça distorcido que a mente insistia em embaralhar.
Havia flashes. A lembrança de uma taça de vinho. A sala com os japoneses. Um mal-estar repentino. A cama. Mãos indesejadas. A escuridão. E depois, a voz desesperada de Miguel. Mas tudo se perdia num emaranhado de sensações confusas e dilacerantes.
Ela respirou fundo, como se tentasse expulsar o veneno que ainda parecia correr em suas veias.
No fundo, ela já sabia. Sabia que Lucas era capaz de tudo. Já havia percebido nos olhos dele aquela sombra doentia que se alimentava da sua dor. Mas o que realmente a feria era pensar em Roberto.