O Dom do Deserto
No coração da metrópole dourada de Al-Qadar, um nome era sussurrado com reverência e temor. Zayn Al-Rashid. Trinta e cinco anos, herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da Península, CEO do império Al-Rashid Motors — uma multinacional especializada em carros de luxo personalizados, com ramificações nos setores de energia renovável, inteligência artificial e segurança militar privada. Zayn era um prodígio nos negócios, um lobo no mundo corporativo. Formado em Oxford, com fluência em cinco idiomas, ele negociava como quem comandava guerras. Frio, lógico, letal. Não havia piedade em suas decisões, nem espaço para sentimentalismos. O mercado o temia. Os investidores o idolatravam. E aqueles que ousavam enfrentá-lo... não ousavam por muito tempo. Seu rosto era o reflexo de sua alma indomável: olhos negros como o céu sem lua do deserto, intensos, profundos, que desnudavam sem tocar. Os traços eram cortantes — mandíbula firme, nariz aristocrático, sobrancelhas grossas que acentuavam ainda mais o olhar carregado de poder. Seu corpo era moldado pelo rigor da disciplina, músculos definidos por treinos diários de artes marciais e equitação no deserto. Vestia ternos sob medida durante o dia, túnicas tradicionais à noite. Tudo nele transpirava controle. Naquela manhã, ele encerrou mais uma reunião com executivos europeus. Não precisou levantar a voz. Bastou um olhar para fazer o diretor francês gaguejar. — Vocês querem fechar um contrato comigo, senhores — disse em inglês impecável, a voz baixa, cortante como uma lâmina polida — mas não conseguem sequer entender o que está em jogo. Eu não vendo carros. Eu vendo domínio. Poder. Status. Se quiserem brinquedos, procurem outro fornecedor. Se quiserem ser lembrados... então sentem-se, ou levantem-se e desapareçam. Silêncio. E então, claro, todos se sentaram. Mais tarde, sozinho em seu carro blindado — um modelo exclusivo desenhado por ele mesmo — Zayn fechou os olhos por um momento. A cidade se dissolvia pelas janelas escuras enquanto o motorista o levava para longe dos olhos do mundo. Havia um lado dele que poucos conheciam. Um lado que só se revelava após portas de aço serem trancadas. Ali, no interior de sua propriedade privada, nos andares subterrâneos, estava seu verdadeiro santuário. Onde o Dom reinava. Naquela noite, uma nova submissa havia sido aprovada para a sessão. Francesa. Treinada. Linda. Zayn entrou na sala como um deus noturno, vestindo apenas calças escuras e uma camisa de linho entreaberta, revelando parte do peito bronzeado e definido. As luzes eram suaves, o ambiente perfumado com âmbar e especiarias. A mulher o aguardava de joelhos, cabeça baixa, como fora instruída. O silêncio era quase absoluto, interrompido apenas pelo sutil chiado do ar fresco que saía pelas frestas do teto. O tapete persa sobre o mármore quente amortecia seus joelhos, mas não sua ansiedade. Ele se aproximou devagar, passos firmes, sem pressa. Como um predador diante da presa que já sabia que seria devorada. — Levante os olhos — ordenou, e sua voz era um sopro grave que reverberava pelas paredes acarpetadas. Ela obedeceu, e os olhos encontraram os dele, hesitantes. — Está com medo? — Zayn perguntou, inclinando-se ligeiramente. O rosto agora próximo ao dela, o perfume quente e amadeirado preenchendo o ar. — Um pouco... sim, senhor — respondeu ela, tentando manter o olhar firme. Zayn sorriu de canto. Um sorriso que não prometia alívio. Prometia controle. — Ótimo. O medo é o primeiro passo para a entrega. Se você estivesse confortável, não estaria pronta para ser moldada. Passou os dedos pela linha do queixo dela com uma delicadeza que contradizia a força latente em seu toque. — Aqui, você não finge. Não interpreta. Você sente, você obedece... ou você parte. E ninguém parte do meu mundo sem que eu permita. Ela engoliu seco, visivelmente abalada. Ele deu a volta por trás dela e falou próximo ao ouvido: — Hoje, não quero espetáculo. Quero verdade. Você é capaz de me dar isso? — Sim, senhor... — Veremos. — Qual a sua palavra de segurança? — Areias, senhor! A sessão daquela noite foi intensa, mas sem violência. Zayn não precisava de dor para dominar. Ele lia corpos, decifrava silêncios, moldava vontades com uma precisão cirúrgica. Tudo era controle. Nada era acaso. A respiração da mulher estava ofegante, entrecortada. Os punhos ainda atados com as fitas de seda vermelha tremiam levemente, e gotas de suor escorriam pela base de sua nuca. Ela se esforçava para manter a postura, mas o corpo já pedia rendição. Zayn caminhava ao redor dela em círculos lentos, como um rei analisando sua obra final. — Muito bem, Brunelli... você aprendeu a escutar. Sua voz era baixa, precisa, quase felina. Havia algo de letal em seu controle, mas jamais desequilibrado. Ele não gritava. Nunca precisava. Cada ordem sua era lei — e cada silêncio, mais eloquente que mil palavras. Ele a desatou com precisão, segurando os pulsos com firmeza, mas sem brutalidade. Levantou o queixo dela com dois dedos, os olhos cravados nos dela. — Você chorou? — Não, senhor. Ele ergueu uma sobrancelha. — Pena. Às vezes é no choro que a alma revela o que a carne esconde. Soltou-a em seguida como se soltasse um objeto. Girou os ombros devagar, retirando as luvas pretas de couro que usava, uma de cada vez, como se encerrasse um ritual. Caminhou até o pequeno lavatório dourado, lavou as mãos com água morna e secou com uma toalha que ele próprio dobrou e deixou sobre a bancada. Sem olhar para trás, apertou um botão na parede. Poucos segundos depois, uma das criadas entrou em silêncio. Vestia branco dos pés à cabeça, como as demais. Seus olhos jamais se encontravam com os de Zayn. Era regra. — Leve-a, lave-a, alimente-a. Depois, libere. — Sim, senhor. Zayn caminhou até o amplo corredor, parando diante de uma porta de madeira maciça. Ao abri-la, seu quarto particular se revelou: amplo, minimalista, escuro. Nada de ornamentos desnecessários. Apenas uma cama de lençóis impecavelmente alinhados, uma mesa com documentos organizados, e uma janela de vidro fumê que dava para o deserto. Ali dentro não havia prazer. Não havia vestígios de luxúria. Havia ordem, disciplina e solidão. Ele não dormia com suas submissas. Nunca. Sexo, para ele, era domínio. Era poder. E o prazer... era apenas uma ferramenta. Não havia espaço para carícias após. Nem para beijos longos, nem para a ternura que tantas tentavam arrancar de seus olhos. Ele não era feito de carne fácil, nem de desejo banal. O silêncio do quarto era quebrado apenas pelo som distante da cidade apagando suas luzes. Já passava das nove da noite. A última oração do dia se aproximava — e com ela, o momento em que ele finalmente se despia das máscaras do mundo. Com passos lentos, dirigiu-se até o lavabo. Enrolou as mangas da camisa, revelando os antebraços fortes. A água corria fria entre os dedos enquanto ele iniciava o wudu — a ablução ritual. Lavou as mãos, enxaguou a boca e o nariz, molhou o rosto com suavidade e os braços até os cotovelos. Passou a mão molhada pela cabeça e, por fim, limpou os pés com movimentos precisos. Não havia pressa. Apenas uma calma silenciosa que parecia vir de dentro. Ao retornar ao quarto, descalço, abriu uma pequena gaveta de madeira escura e retirou seu tapete de oração. Desenrolou-o com cuidado voltado para Meca. O quarto foi tomado por uma aura de paz. Ele se ajoelhou, tocando a testa no tecido com reverência, e ficou ali por um momento, olhos fechados, como se estivesse buscando silêncio dentro do próprio coração. Não havia testemunhas. Nenhuma plateia. Só ele, a fé — e a certeza de que, entre as rugas do poder, era naquele gesto simples que sua alma se reencontrava. A sessão já não ocupava sua mente. A mulher, menos ainda. Ela fora apenas... um alívio. Um jogo. Um treino. Um lembrete de que ainda detinha o controle. De que seu corpo obedecia à sua mente, e não o contrário. Nascido na linhagem direta do Emir Hamza, Zayn recusava o luxo decadente dos palácios em favor de resultados. Enquanto seus irmãos se entregavam a festas e corridas de camelos, ele construía estruturas, empregava milhares e triplicava o lucro em tempos de crise. Era o favorito para herdar o trono — não pelo sangue, mas pela competência. Frio. Austero. Religioso. Dizia-se que nunca tocava uma mulher duas vezes. Que jamais beijava. Que não suportava a ideia de compartilhar sua cama com outra alma. Era o aço sob o ouro. O veneno dentro do vinho. A escuridão onde os outros buscavam luz. Ele era o deserto. E o deserto... não floresce para ninguém.