Caíque
O barulho do interior do café ainda está vivo em minha cabeça: a mistura de vozes, o som da máquina de café, o tilintar das xícaras. Mas o que mais me marca não é o café, nem o cheiro da bebida, nem o quanto o lugar parece o mesmo de anos atrás. O que me marca é o olhar dela. Mayara. O silêncio que pairou entre nós quando nossos olhos se encontraram. Nada me preparou para encontrá-la, nem para a distância que ela impôs quando me aproximei.
Minha aproximação e a conversa vazia que tentei puxar não fazem sentido. Até agora, não entendo o porquê de ter feito isso. Mas, quando dei por mim, minha boca se abriu e chamou seu nome, meus pés andaram até ela. Era como se o tempo não tivesse passado, como se eu ainda fosse o homem que ela conheceu, mas já não era. E ela sabia disso. Eu também sabia disso. Estava tão absorto em vê-la, que só acordei quando ela se levantou e foi embora.
A sensação de estar em um lugar em que eu não pertencia nunca foi tão forte quanto agora. Era assim que e