Gustavo
Tem dias em que tudo parece meio em câmera lenta. Tipo hoje. O sol tá se pondo devagar lá fora, pintando o céu de laranja, e eu tô sentado na escada da varanda, com os cotovelos nos joelhos e a cabeça cheia de coisa. A casa tá cheia do barulho de sempre — risada da minha irmã, panela batendo na cozinha, meu pai cantando desafinado alguma música antiga. É tudo muito normal. Mas, ao mesmo tempo… sei lá. Nada é só normal quando você presta atenção de verdade.
— Gu, olha só! — a voz da Isadora corta meus pensamentos, aguda como sempre. Ela corre na minha direção com um copo na mão, metade cheio de alguma poção maluca feita com groselha, leite e, provavelmente, sabão.
— Não me dá isso. Da última vez quase vomitei — digo, fazendo careta. Ela ri como se fosse a melhor piada do mundo.
— É só groselha! Tá, talvez tenha um pouquinho de pimenta…
Reviro os olhos, mas sorrio. A Isa tem sete anos, mas às vezes parece que ela veio com o dobro de energia e criatividade. Meu pai diz que ela pux