O dia do casamento havia finalmente chegado. Todos se aprontavam para a cerimônia, mas Alana sentia como se devesse fugir para uma cidade distante. Longe de tudo. Longe do que estava por vir.
A noiva estava pronta em seu quarto, chorando às escondidas. Ninguém podia vê-la assim. Só havia uma pessoa no mundo que poderia fazê-la largar tudo e fugir: seu verdadeiro amor, Matthew. — O que minha bela dama faz aqui, sozinha e chorando? — perguntou Matthew, surpreendendo-a. — Como você entrou aqui? Ninguém o viu entrar? — sorriu, fechando as portas do quarto e dizendo aos guardas que queria um tempo sozinha. Todos respeitavam seu desejo. Afinal, quem em sã consciência aceitaria se casar com um completo desconhecido só para evitar uma guerra? Assim que trancou as portas, Alana correu para os braços de Matthew, beijando-o com a intensidade de quem acreditava ser a última vez. — Eu te amo, Alana. Nada nem ninguém vai mudar isso — Matthew segurou suas mãos, olhando profundamente em seus olhos. — Eu também te amo, Matthew. Você sabe que eu faria qualquer coisa por você — respondeu, sentando-se na beira da cama. Ao notar a seriedade no olhar dele, perguntou: — O que foi? — Eu não quero que se case. Sei que posso ser digno de você. Não se case, por favor, minha florzinha. Não faça isso — implorou com a voz embargada. — Matthew, eu… eu não posso fugir agora. Mas vou conquistá-los por dentro, ganhando a confiança dos homens dele. Quando for seguro, eu fujo. Eu prometo. — Eu não quero que você se arrisque. E se, ao se casar, não houver mais esperança pra nós? — gritou, sacudindo-a levemente. Alana apenas o encarou, com o coração apertado. — Eu sei… Mas isso não é só por nós. É pelas mulheres e homens que já sofreram demais e não têm mais forças para lutar. Por favor, não me faça sentir pior do que já estou. — Você está nos tirando do jogo, Alana. E os nossos planos? — ele murmurou, sentando-se e cobrindo o rosto com a mão, os olhos cheios de desespero. — Eu também estou sofrendo, meu amor… — murmurou ela, e sem conseguir continuar, o beijou com paixão e certeza. Sabia que sua primeira vez seria com ele. Tiraram o vestido de noiva com cuidado e o deixaram sobre a cama. Por um instante, ficaram em silêncio, olhando para o vestido ali deitado… e depois para si mesmos. Matthew se inclinou para alcançar seus lábios. Carregou Alana e a sentou sobre seu colo, de frente, mantendo o beijo lento e profundo. Sabia que aquele momento poderia marcar o fim do que só deveria acontecer após o casamento. Mas se era o último, queria que fosse real. Beijou-a por todo o corpo, arrepiando-a com cada toque. — Tem certeza de que quer fazer isso? — perguntou, mesmo já sentindo a resposta no modo como ela desabotoava sua camisa, mantendo o olhar firme no dele. Os beijos e carícias aumentavam em intensidade até que, de repente, uma batida na porta interrompeu tudo. Uma empregada avisava que o pai de Alana a esperava na sala. A paixão deu lugar à urgência. Alana vestiu-se apressada, beijou Matthew com um misto de dor e ternura, e saiu do quarto como se nada tivesse acontecido. — Papai, estou pronta. Podemos ir — disse, beijando o rosto dele e disfarçando sua tristeza com um sorriso impecável. Todos seguiram Mendonça e Alana. Subiram no carro e percorreram a cidade até o templo onde o casamento seria realizado. Tudo estava preparado. Os homens de ambos os lados estavam posicionados, prontos para qualquer movimento. O templo antigo e sagrado, reservado para casamentos de linhagens puras, estava aberto, revelando ao centro o espaço da cerimônia. De um lado, a entrada do noivo; do outro, a da noiva. E então, por uma pequena porta vermelha, saiu o "Lobo Ancião". Ao contrário dos outros, ele trajava branco — um detalhe misterioso que ninguém sabia explicar. — Aproximem-se, jovens — disse com uma voz humana, clara, ouvida por todos. Alana pensou alto: — Está na hora. — Sim, minha querida. Vim te levar até o seu futuro esposo, que já está esperando com o ancião — disse o pai, entrelaçando seu braço ao dela. Ela caminhou ao lado dele, com o vestido arrastando pelo tapete vermelho. Todos a observavam com admiração, enquanto se aproximava do altar. O noivo virou-se, e seus olhares se encontraram. Emoções, dúvidas e lembranças os invadiram. — Você está maravilhosa… como sempre — disse o noivo. — Como sempre? — Alana perguntou, confusa. O Lobo Ancião ergueu sua voz novamente: — Quando fui chamado para selar esta união, percebi que apenas um dos corações está verdadeiramente presente. Então, dou a vocês duas opções: ou deixam este templo agora, ou aceitam viver como um casal de verdade, com amor e compromisso. Silêncio. Nenhum dos dois se moveu. — Estão dispostos a se amar e se suportar como companheiros, pelo bem de vocês e de seus povos? — perguntou o ancião. O noivo olhou para seu pai, que acenou com a cabeça. Ele então respondeu: — Sim. Alana procurou Matthew entre os convidados, mas não o encontrou. Respirou fundo, olhou para o pai e então respondeu: — Sim. Foi nesse momento que viu Matthew, encapuzado, entre a multidão. Sem mais palavras, o ancião selou a união. E, como surgido do nada, desapareceu num passe de mágica. — A guerra acabou! — gritou alguém ao fundo, seguido por aplausos e gritos de alívio. O ambiente se encheu de alegria. Mas dentro de Alana, restava o silêncio de um amor sufocado.