Após a trágica perda de seu noivo no dia do casamento, Emily se encontra presa em um ciclo de luto e depressão que ameaça engoli-la. Impulsionada para um recomeço, ela embarca em uma jornada rumo a Shadows River, uma pitoresca cidade aninhada nas colinas do interior da Virgínia. Seu refúgio é a mansão Whitewood, uma majestosa residência do século XIX, mergulhada em segredos que aguardam pacientemente para serem desvendados. Enquanto assume o trabalho de restaurá-la, o seu caminho se cruza ao de Jake, um jovem zelador que é tão misterioso quanto própria a casa. Seu olhar hipnotizante e charme inegável atrai Emily de modo avassalador, mas à medida que os dois se aproximam, segredos sombrios emergem das sombras da mansão, lançando dúvidas sobre a sanidade de Emily. "Desejo Sombrio" é uma história de paixão e mistério que levará você a uma jornada inesquecível, onde as fronteiras entre a realidade e o sobrenatural se entrelaçam.
Ler mais— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.
beep
— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!
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— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.
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— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?
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— Shadows River — sussurrei o nome que parecia estranho demais para uma cidade.
Deitada na cama, encarava o teto, imóvel. Sobre o peito, segurava a última foto que eu e Noah tiramos juntos, uma semana antes do acidente que o levou de mim de forma trágica. Eu não sabia que essa semana seria tão difícil. Dois anos já haviam se passado, mas a tristeza continuava a me engolir na mesma velocidade. Era para estarmos comemorando mais um ano de casados, e não para eu estar largada na cama há dias, sem banho, sem comer decentemente, chorando sem parar.
A campainha tocou, e eu bufei desgostosa e cansada, fechando os olhos. Talvez se eu ignorasse quem quer que estivesse lá fora, a pessoa iria embora. Mas estava enganada. A campainha soou novamente, e logo em seguida, fortes batidas foram ouvidas. Respirando fundo, arrastei-me para fora da cama e caminhei a passos lentos até lá. Espiando pelo olho mágico, vi Beth parada diante da porta.
— Ela acabou de me ligar e já está aqui?
— Sei que está aí, é melhor abrir — falou em um tom ameaçador.
Destranquei a porta e abri-a.
— Cruzes! Você está péssima! — Forcei um sorriso e dei passagem para ela entrar. — Você me ligou a caminho daqui?
— Na verdade, estava lá embaixo. Tinha esperança de que me atendesse, e eu não precisasse subir quatro andares de escada, usando salto alto. Você podia mudar para um prédio com elevador.
Fechei a porta e sentei-me no sofá.
— Desculpe, não tenho nada para te oferecer que não seja o resto de yakisoba de ontem e gim. — Forcei outro sorriso.
Beth olhou-me com piedade, quase derramando pelos olhos, e sentou-se na poltrona à minha frente.
— Eu te amo! E não aguento mais ver você nesse estado deplorável. Noah não ia gostar disso. Sei que dói, mas não pode se permitir afundar outra vez.
— Eu posso, sim! — disse um pouco impaciente. — Foi o meu noivo que morreu a caminho do altar. Fui eu que tive que enterrá-lo, quando éramos para estar a caminho da lua de mel que tanto sonhamos.
Senti um nó na garganta, e lágrimas se empoçarem nos meus olhos.
— Ele era o meu melhor amigo! E você foi tudo o que restou dele na minha vida, e não vou me permitir perder você também! — falou no mesmo tom. — Por favor, Emily… Reaja. Da próxima vez, talvez eu não chegue aqui a tempo de tirar comprimidos da sua goela. Não faça isso comigo.
Engoli em seco, abaixando a cabeça. Eu ter feito isso comigo mesma ainda me gerava certa vergonha.
— Estou indo nas sessões de terapia. Isso não vai acontecer de novo.
Olhei-a novamente.
— Acho que devia sair desse apartamento, pelo menos por um tempo. Tem lembranças demais aqui. O que acha de mudar o cabelo e fazer umas comprinhas? Talvez viajar seja uma boa ideia. E trabalhar também. Acho que devia ir para Shadows River. Dei uma olhada na internet, e o lugar é lindo. Parece que a cidade saiu de um conto de fadas. Acho que ar puro, lugar novo e gente diferente vai te fazer bem.
Respirei fundo.
— Vou pensar sobre isso.
— Se você não for, terei que declinar o trabalho. Estamos com pouco pessoal, e não tenho quem mandar. E você sabe… recusar essa restauração seria um erro. A empresa está no vermelho há um ano.
— Eu sei, Beth. E eu sinto muito por isso.
— Não. Sabemos que a única coisa que tem sentido é o luto, e ele está acabando com você. Vão ser só três meses. Confio que fará um serviço impecável nesta casa.
Sorriu confiante, sentando-se ao meu lado.
— Vamos, Emily. — Puxou-me para ela, abraçando-me de lado. — A nossa empresa precisa de você! E eu preciso da minha amiga de volta.
Conforme os dias decorriam, eu tentava entreter Beth na pequena cidade, mas ela detestava estar ali. Eu não a julgo. Talvez, se não tivesse vivido momentos intensos com Jake, teria odiado cada dia nesse lugar. Era pacato e pequeno. Mas eu gostava de estar de volta.Quando o fim de tarde chegou, nos preparamos para o baile. Algumas pessoas da cidade haviam sido convidadas. Dirigi entre o topo das colinas, e Beth assustou-se com o escuro.— É tão mórbido lá fora. Parece que a qualquer momento alguma coisa saltará da escuridão na nossa direção.— E talvez salte. Não dá para saber o que realmente tem lá fora.Olhei-a rapidamente e vi os seus olhos arregalados com espanto.— Ah, meu Deus! — disse Beth, logo que avistou a mansão. — Emily… esse lugar é incrível!— Você ainda não viu por dentro. — Parei o carro na entrada, e logo um manobrista abriu a minha porta. — Guarde o queixo caído para quando entrar e observar o meu trabalho.Descemos do carro, e juntas seguimos para a entrada movimenta
Quando desembarquei em Nova Iorque, Beth esperava por mim no aeroporto. Ela abraçou-me apertado e desejou-me as boas-vindas. Quando chegamos no meu apartamento, ela destrancou a porta e eu logo entrei, arrastando a gigantesca mala comigo. Pela primeira vez, em dois anos, não me senti mal de estar ali dentro. Parei no meio da sala e respirei fundo.— O que vai fazer amanhã? — ela perguntou.— Dar um jeito na minha vida.— Uau! E do que estamos falando?— Vou fazer o que há muito tempo já devia ter feito: me despedir das coisas do Noah e procurar um apartamento novo. De preferência um que tenha elevador, foi difícil subir com essa mala.Ela riu.— Okay. Bom… vou indo. Tenho um encontro. Volte ao trabalho quando estiver pronta e descansada. — Caminhou em direção à porta. — Ah! — Parou, olhando-me. — O que aconteceu com o carinha que você beijou?— Ele só estava de passagem. Precisou ir embora.— Entendi.Ela saiu e fechou a porta.Depois de um banho e desfazer a mala, fui ao mercado. No
No segundo andar, deitamo-nos sobre os cobertores em frente ao fogo. Jake deu-me beijos longos, e nós transamos mais uma vez. Depois do ápice do prazer, ele deitou-se atrás de mim e abraçou-me. Com a cabeça deitada no seu braço, silenciosamente derramei lágrimas enquanto encarava a lareira crepitar. Jake havia me tirado do fundo do poço. Mas agora eu me perguntava: como superá-lo? Assim como Noah, reestabelecer contato não será uma opção. Sentir saudade é a única coisa que me restará após a sua partida.Apanhei o celular e eram exatamente onze e cinquenta da noite. Jake me soltou e deitou-se de barriga para cima, encarando o teto. Sequei as minhas lágrimas e virei-me para ele.— O que houve?— Estou sentindo.— O quê?Ele sorriu. Um sorriso contente, espontâneo. Um sorriso cheio de alívio.— A minha hora está chegando.Jake se levantou e começou a se vestir. Fiz o mesmo. Ele caminhou até a porta do quarto e estendeu-me a sua mão. Coloquei a minha palma sobre ela e, juntos, descemos a
Acelerei em direção à colina enquanto o céu se iluminava repetidas vezes com raios e trovões. Quando passei pela ponte, a chuva desabou forte. Era como se o tempo estivesse apenas esperando eu voltar para a mansão. Desci do carro e corri para dentro da casa, abrigando-me sob o casaco.— Jake! — chamei por ele, mas não obtive resposta.O mais puro silêncio se perpetuou nos meus ouvidos e ao longe consegui ouvir o som do piano. Andei em direção à biblioteca, e ao passar pela porta, lá estava Jake, sentado diante do piano, tocando-o majestosamente.— Jake.Ele parou e olhou para mim. Um sorriso doce abriu-se nos seus lábios. Os meus braços se arrepiaram. Ele levantou-se e caminhou a passos lentos na minha direção, parando à frente.— Você também vê todas as luzes acesas?Neguei com a cabeça.— Há muitos anos não vejo a noite tão clara por aqui.— Talvez isso seja um sinal de que a sua hora de partir está se aproximando.— Deus! Você está tão linda!Os seus olhos eram brilhantes e algo ne
— O fantasma dos orgasmos apareceu? — perguntou Candice para mim, logo que passei pela porta.Ela estava debruçada sobre o balcão, chupando um pirulito enquanto folheava um livro.— Eu não sei o porquê fui falar disso com você!Ela riu.— Então ele não apareceu. Senão teriam transado e você estaria de bom humor.Revirei os olhos, parando diante dela. Candice ergueu a cabeça e ficou séria ao me ver.— A sua aura está escurecendo.— É porque eu me sinto triste.— Merda! A gente vai encher a cara mais tarde, aí você ficará menos triste. — Voltou a sua atenção para o livro.— Vim aqui por isso. Eu não tenho uma fantasia. Pode me emprestar uma das suas?— Eu também não tenho fantasia.— E esses vestidos estranhos? — Fiz uma careta.— Ae! São as minhas roupas! — O seu tom soou um pouco ofendido.— Foi mal.— Mas posso te arranjar alguma coisa. Não os meus vestidos estranhos. — Revirou os olhos.Candice fechou a loja e caminhamos até a hospedaria. No seu quarto, ela abriu o guarda-roupa e pe
Deitada diante da lareira, acabei pegando no sono. Acordei com um pouco de frio, percebendo que o quarto estava claro. Já era dia. O fogo havia se apagado. Escutei barulhos lá fora e caminhei até a janela. Os homens da empreiteira haviam acabado de chegar. Vesti as minhas roupas, dobrei os cobertores e guardei-os no baú.Ao sair do quarto, olhei para os lados, procurando por Jake. Eu não o estava vendo nem sentindo. Com o diário na mão, deixei a casa.— Oi — disse Ben. — Dormiu aqui? — perguntou confuso, observando as minhas roupas.— Dormi. Vou para a hospedaria agora, volto mais tarde.Entrei no meu carro, sem dar mais espaço para perguntas. Depois de um banho e café da manhã, fui até a loja da Candice.— O-ou! Não está com uma carinha boa — falou ela.— Achamos o diário.Os seus olhos se arregalaram, e os ombros ficaram tensos.— E então?— Anne e George, o zelador, provocaram o incêndio.— George Foster é o avô da Jude.— Eu sei. Ele recebeu joias como pagamento pela ajuda. E Anne
Último capítulo