Descendo pelas escadas, percebi que não havia muita movimentação lá embaixo. Passei pela sala de estar, pela de TV, e então cheguei à sala de jantar. Jude terminava de colocar a mesa. Ela olhou-me e sorriu.
— Vejo que não sou a única a acordar cedo por aqui.
— Nem me lembro da última vez que acordei depois das sete.
— Eu me lembro. Antes do Benjamin.
— Seu filho?
— Sim. Sinto saudade de quando eu acordava com ele cantando no seu quarto.
— Onde ele está agora?
— Acho que indo se encontrar com você na mansão Whitewood. — Riu.
— Ben Foster? O empreiteiro?
Ela assentiu.
— Sente-se. Vamos comer.
Sentei-me, e ela acomodou-se à minha frente. Jude nos serviu chá e colocou uma rosquinha doce no meu prato. Ela disse ser o grande atrativo de todas as manhãs e que eu precisava comer antes que os outros descessem e acabassem com tudo.
— Qual é a da Candice?
— Ela mora aqui desde que a mãe faleceu. Antes morava no fim da rua, mas as dívidas apertaram e ela teve que vender a casa.
— Ela é meio estranha.
Jude riu.
— Ela disse coisas esquisitas, não foi? Ela faz isso, às vezes. E o pior, é que nem sempre é mentira. Mas sou meio cética, então não dou muita atenção.
Bebi um pouco do chá de hortelã e mordi um pedaço da rosquinha. A massa estava suculenta, a minha boca se encheu com calda doce. Sobre ela, tinha lascas de coco crocante. Olhei maravilhada para Jude.
— Isso é uma das melhores coisas que já comi.
Ela sorriu convencida.
— Vá em frente e sirva-se de mais uma.
Coloquei outra rosquinha no meu prato e dei toda a minha atenção àquela delícia.
— Me diga, Emily… O Whitewood disse que quer restaurar a casa para visitação, mas ele também pretende torná-la um hotel, não é?
Olhei-a. Havia um pouco de preocupação em sua face.
— Sim, ele pretende.
Suspirou frustrada.
— É claro, que sim. Aquela casa possui quatorze quartos. E isso quer dizer que o meu negócio vai decair.
— Por que diz isso? A sua hospedaria é ótima e tem uma boa localização na cidade.
— Mas aquela mansão possui histórias de que todos gostam de ouvir.
Isso é verdade. Pessoas viajam quilômetros atrás de histórias e experiências minimamente sobrenaturais. Não seria diferente em uma cidade como Shadows River.
Com olhos baixos, Jude deixou a sala de jantar. Terminei de comer sozinha e levantei-me para seguir com a agenda do dia. Ao chegar no hall de entrada, encontrei com Candice. Paramos e nos encaramos.
— Sinto muito por ontem. Não foi a minha intenção assustar você.
— Você não me assustou.
Ela empinou o seu nariz e olhou-me com olhos estreitos.
— Se está dizendo… — Passou por mim, entrando na sala de estar.
Deixei a casa e entrei no meu carro. Segui caminho em direção às colinas. A estrada era um pouco escura, árvores a cobriam. Nas laterais, tudo o que se via, era uma densa floresta. E quanto mais alto se chegava, mais neblina tinha entre os troncos.
Um pouco mais adiante, avistei o rio e então a ponte. Desacelerei o carro e abri o vidro, estacionando ao canto. Observei o cenário sentindo um pouco de arrepio. Agora entendia o nome do rio que originou o nome da cidade. Todo ele era coberto pelas sombras das árvores. As copas bloqueavam completamente a entrada de luz. Estava escuro como o entardecer. As águas pareciam ser de cor preta. Era um tanto sinistro. Isso passava de contos de fada para cenário de filme de terror.
Acelerei novamente e atravessei a ponte, seguindo o meu caminho. Pouco mais de um quilômetro à frente, logo avistei a casa. Sorri para tamanha beleza. Janelões compridos, entrada majestosa e ampla com porta dupla de madeira maciça. Isso devia pesar quase uma tonelada. O telhado dava ao lugar um ar imperial.
Desci do carro e permaneci por longos minutos observando a fachada em detalhes. Magicamente, comecei a sentir certa empolgação em trabalhar com aquela casa. Apanhei o celular na bolsa, tirei uma foto e encaminhei para Beth.
A passos largos, caminhei até a entrada. O proprietário havia avisado que ela nunca estava tranca. Foi apenas girar a maçaneta e entrar. Ao passar pela porta, a qual precisei tocar para sentir a textura da madeira, o meu fôlego desapareceu. Um corredor de aproximadamente quatro metros de comprimento me levava direto até um gigantesco hall. Ali, várias portas e passagens para inúmeros cômodos. À minha frente, uma belíssima escadaria com corrimão de pedra. Acima da minha cabeça, um lustre imenso que, sem dúvida alguma, era do início de mil oitocentos e noventa.
Com as mãos repousadas sobre o peito, girei vagarosamente o meu corpo em trezentos e sessenta graus pelo ambiente, admirando cada canto.
— Olá!
Olhei em direção à porta, e lá estava um homem vestindo jeans, botas de obra e jaqueta de chuva.
— Você deve ser o Ben Foster.
— E você é a senhorita Park. — Caminhou na minha direção, estendendo-me a mão.
— Me chame de Emily. Prazer em conhecê-lo.
— Igualmente.
Olhou impressionado a casa ao seu redor.
— Caramba! Esse lugar parece um castelo. Eu nunca estive aqui dentro. Sempre tive curiosidade de saber como era, desde criança.
— Devia ser crime esse lugar estar há tanto tempo fechado.
— Preciso concordar com você.