Dores Herdadas
Brenda acordou agitado naquela noite.
Era por volta das duas da manhã quando escutei os passos apressados no corredor e, logo depois, a maçaneta girando devagar.
Clara já estava deitada, mas se levantou ao mesmo tempo que eu.
Encontramos nossa filha no vão da porta, com os olhos marejados e o urso de pelúcia apertado contra o peito.
— Tive um sonho ruim. Ela murmurou.
— Vem cá, meu amor! Clara disse, ajoelhando-se para abraçá-la.
Ela correu para os braços dela, soluçando baixinho.
Clara o embalou no colo, sentando-se na beira da nossa cama.
Eu me aproximei, passando a mão com carinho em seus cabelos bagunçados.
— Quer contar pra gente o que sonhou? Perguntei.
Ele hesitou.
— Tinha uma casa escura e uma mulher que me chamava de neto.
—Mas ela ia embora toda vez que eu tentava falar com ela.
—Depois eu ficava sozinha, gritando, mas ninguém vinha.
Meu peito apertou.
Era a visita da minha mãe, transformada em pesadelo.
A ausência disfarçada de presença.
A sombra que