A casa está em silêncio. Brenda dorme, a televisão está desligada e Clara recolhe as canecas do chá com passos leves.
Eu estou na poltrona da sala, o caderno azul fechado sobre o colo, os olhos fixos no teto como se ali estivessem escritas respostas que ainda não sei formular.
Desde que voltei, minha mente é um campo de batalha entre o passado e o que ainda não sei chamar de futuro.
E Clara ela se move nesse espaço entre os escombros com uma leveza que me desconcerta.
Não é invasiva. Não exige. Não se impõe. Ela apenas está. Todos os dias.
Acordando antes que Brenda precise, preparando refeições simples, ajustando os travesseiros ao redor das minhas costas, levando e buscando a menina da escola, pagando contas que eu nem sabia que existiam.
É como se tivesse preenchido todos os espaços que ficaram vazios.
Mas o que me confunde não é sua dedicação.
É a maneira como ela me olha quando pensa que não estou vendo.
Há um silêncio entre nós que não incomoda. Ao contrário, ele aquece.
M