A manhã começou tranquila. Brenda brincava com blocos no tapete da sala, Clara preparava café e eu tentava escrever mais uma página do caderno azul.
As palavras fluíam lentamente, mas vinham.
Pela primeira vez em muito tempo, não senti necessidade de perfeição.
Escrever para Brenda não exigia grandes viradas, nem metáforas mirabolantes.
Apenas verdade.
O som da campainha interrompeu o ritmo suave da casa.
Clara levantou para atender.
Ouvi a porta abrir, vozes abafadas e, em seguida, um silêncio estranho.
Aquele tipo de silêncio que precede algo fora do lugar.
— Miguel? Clara chamou, com um tom que não usava desde os dias de UTI.
— O que foi?
— É sua mãe. E seu irmão. Estão aqui.
As palavras congelaram minhas mãos.
Senti o coração bater mais rápido, não de alegria, mas de algo próximo ao pânico.
Levantei com esforço, peguei as muletas e fui até a sala de entrada.
Lá estavam eles.
Dona Vera, minha mãe, com os cabelos bem presos e o rosto severo.
Rodrigo, meu irmão mais velho