Capítulo 54 — A Mulher Entre Mundos
O vento não soprava naquela noite.
O vento obedecia.
As velas nas paredes se curvavam para ela, como se fossem seres vivos inclinando a cabeça.
A escuridão parecia pulsar, não de medo, mas de reverência.
Helena — ou o nome ancestral que guardava nas entranhas da alma — atravessava o corredor como se o universo tivesse aberto caminho para ela.
Não havia mais castelo.
Não havia mais presente.
Não havia passado.
Havia apenas ela,
e o poder que carregava no corpo como um fogo silencioso.
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Quando entrou na sala dos espelhos, as superfícies não refletiram sua imagem.
Refletiram todas as suas versões:
a mulher de véu vermelho,
a conselheira do rei,
a amante que atravessou guerras,
a estrategista,
a bruxa livre,
a mulher moderna que Rafael conheceu,
a guardiã que protegeu o reino,
a luz que mulheres sentem sem entender.
Todas elas se olharam.
E sorriram.
Porque sabiam:
nenhum amor define Helena.
É ela quem define todos os amores.
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As velas apagaram ao mes