Capítulo 50 — A Dama e o Rei
O castelo acordava ao toque do vento, não ao toque das horas.
As pedras, gastas pelo tempo, pareciam sussurrar quando Helena caminhava, como se reconhecessem a dona de um segredo antigo.
Aquela noite não tinha forma — era mais espessa, mais viva.
Uma noite de memórias.
A chama da vela tremulava no corredor, desenhando sombras que se alongavam diante dela.
Quando passou pela tapeçaria vermelha, a que mostrava um unicórnio sob uma lua dupla, o tecido vibrou — como se respirasse.
Helena parou.
O vento soprou exatamente naquele instante, e a tapeçaria abriu-se como uma cortina.
Ela entrou.
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O salão surgiu diante dela tão nítido quanto fora há séculos.
Lustres pendiam do teto, e o brilho de centenas de velas dançava sobre o mármore.
O cheiro de incenso misturava-se ao de metal polido.
E ali, de costas para ela, estava o rei.
Jovem, mas com a fadiga de quem carrega o mundo.
As mãos dele apoiadas sobre o mapa aberto.
O manto verm