O rescaldo do amor deles no escritório deixou o ar denso, carregado de uma intimidade crua que tornava o ambiente de poder e mogno quase sagrado. Isabella permaneceu nos braços de Pedro, o seu corpo languidamente deitado sobre a secretária, a sua mente uma tela em branco pela primeira vez em anos. O som de uma notificação vibrando no telemóvel dele foi uma dissonância, um eco de um mundo exterior que ela, naquele momento, desprezava.
Pedro ouviu o som, mas não se moveu. Ele estava a observá-la, a sua expressão uma máscara de intensidade indecifrável. Ele via a forma como a respiração dela ainda estava instável, como os seus olhos, geralmente tão afiados e analíticos, estavam agora suaves e perdidos. A visão dela, desfeita por ele, não num ato de guerra, mas de uma paixão mútua e desesperada, acendeu nele uma possessividade tão feroz que o assustou. Ele, um homem ressentido, moldado por traições, estava a sentir a fundação do seu império de desconfiança a rachar. E era por causa dela.