A manhã seguinte em Tóquio foi um exercício de negação.
Eles se encontraram na sala da suíte, ambos vestidos impecavelmente em seus trajes de viagem, como dois generais se preparando para um armistício. As máscaras profissionais estavam de volta, mas não se encaixavam direito. Eram como peças de uma armadura que haviam sido amassadas na batalha da noite anterior, e agora mostravam as rachaduras.
A troca de palavras foi mínima. "O carro está esperando." "Seus documentos." "Entendido." O caminho para o aeroporto foi feito em um silêncio denso, cortado apenas pelo som do trânsito de Tóquio. Para qualquer um que os visse, eram a imagem do poder: o CEO e sua assistente eficiente, movendo-se em uma sincronia silenciosa. Mas por dentro, Isabella sentia cada átomo do ar vibrar com o que não foi dito, com a memória do beijo, do toque, da confissão silenciosa em seus olhos.
A bordo do jato privativo, a proximidade forçada tornou-se quase insuportável. Isabella abriu seu laptop, determinada a trabalhar, a se refugiar na familiaridade de planilhas e relatórios. Mas as palavras e os números dançavam na tela, sem sentido. Sua consciência estava inteiramente focada no homem ao seu lado. Ela sentia o calor do braço dele a centímetros do seu, percebia o cheiro sutil e caro de seu perfume, ouvia o ritmo calmo de sua respiração. Era uma tortura silenciosa.
Por horas, o único som foi o zumbido suave dos motores. Então, a voz dele, baixa e cortante, quebrou o silêncio.
— Não consegue se concentrar, senhorita Clark?
Ela se virou, surpresa. Ele não estava olhando para ela, mas para a frente, o olhar perdido na curvatura da Terra.
— Estou apenas revisando as atas da reunião — ela mentiu.
Ele finalmente virou a cabeça, e o olhar dele era tão penetrante que ela sentiu como se ele pudesse ler cada pensamento caótico em sua mente.
— Eu revisei seu arquivo novamente na noite passada — ele disse, o tom analítico, como se estivesse dissecando um problema de negócios. — Formada em Harvard, summa cum laude. A melhor da sua turma. Uma mente brilhante, com recomendações que a colocariam em qualquer empresa do mundo. E depois, um hiato. Seis anos em que seu currículo fica em branco. Não faz sentido.
O ar ficou rarefeito. A pergunta dela, a ferida que ela mantinha tão bem escondida, fora exposta na estratosfera. Ela sentiu um calafrio, uma memória de dor e dever passando por seus olhos antes que pudesse esconder.
Ela se virou de volta para seu laptop, os dedos pairando sobre o teclado.
— Tive... — ela fez uma pausa, escolhendo as palavras como se caminhasse em um campo minado — ...prioridades pessoais que exigiram toda a minha atenção, Senhor Montenegro.
A forma como ela usou o título formal dele foi uma muralha de aço erguida entre eles. Foi uma declaração: Você pode ser dono do meu tempo e do meu trabalho, mas não é dono do meu passado. Você não tem acesso a essa parte de mim.
Ele ficou em silêncio por um longo tempo, e Isabella não ousou olhar para ele. Ela sentiu a frustração dele irradiar pelo pequeno espaço. Ele era um homem acostumado a ter todas as respostas, a controlar todas as variáveis. E ela, sua assistente, era a única variável que ele não conseguia resolver.
O resto do voo transcorreu em um silêncio ainda mais pesado.
Ao aterrissarem em São Paulo, a bolha de intimidade e tensão de Tóquio estourou. Estavam de volta ao seu mundo, ao seu campo de batalha. Enquanto esperavam por seus carros separados no terminal privativo, ele se virou para ela.
A máscara de CEO estava firmemente no lugar, mas havia um brilho perigoso em seus olhos, um desafio.
— Descanse no fim de semana, Isabella — ele disse, a voz baixa, usando o primeiro nome dela como um golpe deliberado, um lembrete do que acontecera. — Segunda-feira, o jogo recomeça.
Ele se virou e entrou em seu sedan preto sem olhar para trás, deixando-a na pista, o coração batendo forte com a promessa e a ameaça contidas em suas palavras. O jogo não tinha acabado em Tóquio. Tinha apenas começado.