Mundo ficciónIniciar sesiónEra trinta e um de outubro; o dia do aniversário de dezoito anos de Alana. Finalmente teria a maioridade e, na verdade, nem sabia por que desejava tanto aquilo; afinal, não importava se tinha dezoito ou noventa e oito anos — tudo continuaria igual para ela. Nunca sairia do convento, exceto para fazer as compras do mês, realizar algum trabalho de caridade ou participar de um almoço social entediante.
Ela esfregava o chão no escritório da madre Heloísa. Ouviu vozes que se aproximavam, soando preocupadas. A curiosidade lhe picou como um mosquito. Pegou o balde e o empurrou para debaixo da escrivaninha, colocou o esfregão em um canto e correu para se esconder ao lado do balde de água. A porta se abriu.
— Acho que você está exagerando, Marilda — sussurrou a madre Heloísa.
Estavam falando dela, do que havia acontecido no supermercado. Alana não sabia que a irmã Marilda tinha dado tanta importância ao assunto.
— Mas… — a madre Heloísa fez uma pausa — você disse que foi o mais jovem; o bonito.
Um nó se formou na garganta de Alana. Sentiu os pensamentos embaralharem, e de repente voltou a ser a menina pequena que acordava com os choros das irmãs no convento, a garotinha que caminhava pelos corredores sob os olhares piedosos das freiras que iam e vinham… a criança que entrou naquele mesmo escritório tantos anos atrás para receber a notícia de que sua mãe havia sido atropelada por um motorista bêbado.
— Rafael Marroquim não sabe da existência de Alana. Para ele, no dia em que matou Fernanda, naquele mesmo dia eliminou todas as provas que o associavam ao tráfico de mulheres. Ele não faz ideia de que as fitas estão aqui.
Alana estava furiosa. Saiu de debaixo da escrivaninha sem se importar com nada. A madre Heloísa e a irmã Marilda arregalaram os olhos assim que a viram.
— Alana, não é o que você está pensando, querida — disse a irmã Marilda.
Saiu do escritório dando um forte portazo. Correu até seu quarto e fechou a porta atrás de si, mas um pensamento louco cruzou sua mente: precisava sair dali. Precisava abandonar aquele lugar e nunca mais voltar. Não suportava a ideia de ter sido enganada por toda a vida, e não queria ficar perto daquelas pessoas nem mais um minuto.
Abriu a porta devagar para ver se não a haviam seguido. O corredor estava vazio.
Caminhou até o claustro. As irmãs que cuidavam do jardim estavam se retirando, algumas conversavam perto da fonte. Alana pegou uma vassoura e fingiu que varria. Quando todas estavam distraídas, correu até a saída. Ainda não haviam colocado o cadeado no portão, então conseguiu sair sem problemas.
Caminhou até seus pés doerem. Não sabia para onde ia, mas queria se afastar o máximo possível do convento e nunca mais voltar. A noite havia caído, fazia frio, ela estava sozinha e apavorada — mas, mesmo assim, uma sensação de liberdade a invadiu.
Não sabia o que faria. Entrou por uma rua e depois por outra, e começou a notar crianças vestidas de maneira muito estranha, indo de um lado para outro. Algumas meninas usavam vestidos brilhantes e chamativos; alguns meninos usavam armaduras como cavaleiros medievais, outros pareciam futurísticos, com roupas de robôs.
E não eram só as crianças — alguns adultos também estavam vestidos de forma esquisita. Um rapaz musculoso tinha o corpo inteiro pintado de verde e usava apenas um short roxo. Alana não entendia nada.
Havia uma mulher vestida de freira, mas quando Alana viu seu rosto segurou com força o colar com a cruz em seu pescoço — a mulher estava pálida, com olheiras terríveis e sangue escorrendo da boca. Parecia um demônio vestido de monja.
As pessoas tinham enlouquecido. Alana pensou em voltar ao convento, até que ouviu uma voz atrás dela.
— Adorei sua fantasia! — Alana virou-se. Era uma mulher acompanhada de um garotinho vestido com um macacão vermelho e azul que parecia plástico brilhante. O menino jogou nela uma coisa branca que parecia teias de aranha. — É muito realista, até seu rosto é angelical, como o de uma verdadeira freira.
A mulher usava um vestido preto justo que mal cobria as pernas. Alana ficou alarmada com o quanto aquilo mostrava. Ela também tinha um decote enorme e um chapéu pontudo sobre a cabeça; debaixo dele caíam mechas de cabelo preto muito brilhante.
— Minha… fantasia? — perguntou Alana confusa.
— Eu posso… — a voz de Alana saiu como um sussurro. Ela pigarreou. — Posso ir com vocês? É que… eu não sei o que tenho que fazer. É a primeira vez que faço isso.
— Claro! — disse a mulher, sorrindo. — Eu sou Samara, muito prazer.
Alana apenas assentiu.







