Escuto os passos se aproximando do quarto. Sei que é Miller... e Takeshi.
Fecho os olhos com força, tentando preparar minha mente. Me amaldiçoo por ainda me afetar. Já devia estar acostumada. Mas nunca estou. Nunca consigo.
A porta se abre com um rangido seco. Eles entram como donos de tudo, fecham a porta atrás de si com calma, como quem sela uma cela.
Me olham. Estou sentada no meio da cama, usando apenas uma camisola branca, fina como papel molhado. A transparência é proposital. Eles exigem assim.
— Minha deusa... — diz Miller, e só de ouvir sua voz, tudo o que já sofri em suas mãos retorna como um golpe no estômago.
Ele se aproxima. Suas mãos, frias como pedra, tocam meu rosto com uma adoração que beira o delírio.
— Desde a primeira vez que pus os olhos em você, soube que estava perdido.
Ele sorri. Eu só sinto náusea.
A lembrança me atravessa como uma lâmina: ele me viu pela primeira vez aos dezesseis anos. Foi na minha primeira noite no ritual. Fui arrematada pelo jovem mestre.