Capítulo 41
O tempo passou como passam as estações quando a gente não marca os dias no calendário.
Não sei dizer exatamente quando as paredes do casarão deixaram de exalar abandono para começar a contar, novamente, sua história. Nem quando Miguel e eu deixamos de ser dois solitários tentando sobreviver à própria bagunça para, enfim, nos encontrarmos na mesma calmaria.
Mas aconteceu.
A restauração já estava nos detalhes finais. Faltavam os últimos retoques nas sancas da sala de leitura, a limpeza dos vitrais e a finalização do jardim frontal, um dos acréscimos mais simbólicos, segundo Miguel. “A casa merece flores de novo”, ele tinha dito certa manhã, enquanto riscava no papel as ideias para as espécies nativas que gostaria de plantar.
Eu estava na varanda lateral, com as mãos sujas de tinta e um caderno no colo, quando percebi o quanto as manhãs tinham se tornado nossas. Era sempre assim: ele com café fresco, eu com desenhos novos, os dois trocando frases curtas que não exigiam respos