Capítulo 42
O tempo passou como um suspiro depois da entrega do casarão. Não havia mais tintas espalhadas, andaimes nos corredores ou pranchetas ocupando minha mesa. Pela primeira vez em muito tempo, não havia nada urgente a ser feito. E eu não sabia o que fazer com esse vazio.
Acordar sem um cronograma apertado me deu a sensação estranha de estar flutuando. Ainda dormia na casa dos fundos, embora soubesse que, a essa altura, Miguel gostaria que eu dividisse o mesmo teto com ele. Mas algo dentro de mim ainda precisava desse espaço. Não como distância dele, mas como um lembrete de mim mesma.
Algumas noites, dormíamos juntos, mas sempre respeitando esse movimento de ir e vir. Ele entendia. Miguel tinha essa capacidade rara de não invadir, mesmo quando queria se aproximar. Às vezes, eu o via me observando em silêncio, como quem decifra um idioma antigo que só agora começa a entender.
— O que você está olhando? — perguntei certa manhã, com a xícara de café quente entre as mãos.
— A mulher