Kaíque
O mundo é grande, mas pra quem carrega peso nas costas, não existe canto seguro. A Bolívia era só uma ponte. Uma parada no meio do inferno que eu tentei deixar pra trás. Mas a vida, essa filha da puta, não larga do pé de quem deve. E eu... eu devo muito.
Lorena dormia quando saí. Peguei o passaporte falso, o dinheiro, a arma e enfiei tudo dentro da mochila surrada. Ela não sabia, mas o Russo me deu um aviso: um cara do comando rival já tava sabendo da nossa fuga. Alguém abriu a boca. Não dava mais pra esperar.
Fui até a fronteira. Um contato do Russo me esperava com um carro velho, daqueles que a polícia nem olha duas vezes.
— México é longe, irmão. Vai ser viagem longa e perigosa — ele disse, mascando coca como se fosse chiclete.
— Perigosa era a favela onde eu cresci. Não existe nada pior do que o inferno. E esse... Eu já conheço.
Ele riu. Gostei dele. Gente doida reconhece gente doida de longe.
Voltei pro quarto e encontrei Lorena passando a mão na barriga, com o olhar perdi