Laís
A rotina da ONG parecia ter virado um vendaval. Todos os dias alguém batia à porta: professores pedindo novas parcerias, mães querendo matricular filhos, jovens oferecendo oficinas de música, teatro, esportes. Até políticos apareciam com sorriso pronto e mão estendida. Gabriela comentou, meio rindo, meio exausta: — A agenda já não cabe em uma semana. Vamos ter que inventar um oitavo dia.
— Oitavo dia? — Rafaela levantou os olhos da planilha, com olheiras cúmplices. — Só se for pra dormir.
As duas riram, mas eu percebia o peso real. Lucas tentava atualizar o calendário coletivo no quadro branco e, cada vez que um novo compromisso entrava, outro se chocava em cima. Eu mesma estava sendo chamada para tudo: abrir reunião, mediar roda, escrever relatório, visitar escola. Orgulho e medo caminhavam lado a lado. Eduardo observava em silêncio, apoiando, mas os olhos dele denunciavam uma preocupação que nem sempre virava frase.
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Foi nesse turbilhão que Clara reapareceu. Não em vídeo, nã