Laís
A cidade acordou em ponto de ebulição. Na padaria, comentavam com a boca cheia; na rádio, o locutor alongava as vogais como quem tempera fofoca: “Hoje, às onze, coletiva no Hotel Imperial. Felipe Vieira promete revelações”. Eu e Eduardo tomamos café em silêncio, cada um fingindo que o outro não percebeu a mão tremendo na colher.
— A gente não vai. — disse ele, enfim, com a voz que tenta ser rocha.
— A gente não vai. — confirmei, e repeti por dentro como quem amarra um nó.
Na ONG, a equipe já tinha montado a “sala de guerra”: telão ligado numa transmissão ao vivo, planilhas abertas, grupo de mensagens monitorado. Nanda nos recebeu com um aceno curto. — Sem heroísmo hoje. Observamos, anotamos, e publicamos nosso relatório amanhã de manhã, às oito.
Breno cruzou os braços, inquieto. — E se ele falar o nosso nome?
— Ele não precisa falar o nome para plantar veneno. — respondeu Nanda. — E nós não precisamos pronunciar o dele para continuar trabalhando. Foquem.
Eduardo sentou ao meu lad