Laís
Os dias seguintes foram de aparente calmaria, mas a sombra de Clara parecia pairar sobre cada passo. Eduardo tentava se manter próximo, presente, cuidando dos detalhes pequenos: preparar meu café, me buscar no trabalho, mandar mensagens antes de dormir. Eu via o esforço, e aquilo aquecia meu coração. Mas bastava o celular dele vibrar sem que eu visse a tela para que a insegurança surgisse como um fantasma.
Na ONG, Gabriela notou meu silêncio.
— Você tá aqui, mas parece que deixou metade de si em outro lugar. — Ela ajeitou os óculos na ponta do nariz. — Fala comigo.
— É só cansaço, Gabi. Essas campanhas novas estão exigindo demais.
Rafaela apareceu com seu sorriso debochado. — Cansaço, nada. Isso é cara de quem tá lutando contra sombra de gente inconveniente. Clara, certo?
Engoli em seco, sem responder. Elas trocaram um olhar e assentiram juntas, como quem já sabia mais do que eu estava disposta a admitir.
— Laís — disse Gabriela, firme — a gente já viu essa história antes.