Eduardo andava inquieto. As noites ao lado de Laís já não tinham o mesmo riso fácil, nem os olhares demorados. Ela estava diferente. Não distante, mas cautelosa, como se estivesse aos poucos recuando para dentro de si.
E ele sabia o motivo. Clara. Ou melhor, Clara e o próprio silêncio diante dela.
Desde o episódio no bar, Eduardo tentou manter as coisas leves, como se não tivessem sido engolidos por aquele constrangimento. Mas cada mensagem não respondida, cada ligação ignorada que Clara fazia — e que Laís inevitavelmente via — era mais uma rachadura no que estavam construindo.
A gota d’água veio naquela manhã, quando recebeu um aviso do secretário de projetos sociais: o prefeito queria conversar pessoalmente sobre o próximo evento da ONG. E quem intermediaria a reunião? Clara.
Eduardo fechou o notebook com força, os dentes cerrados. O nome dela parecia grudar nas paredes da cabeça.
Ele não queria mais meias palavras. Nem com Clara, nem com Laís.
Ligou para Clara e foi direto:
— Clara