O mar batia suave na encosta, como se respeitasse o silêncio que preenchia o quarto. As janelas abertas deixavam a brisa brincar com as cortinas de linho branco, e cada fio de tecido parecia dançar com o que não era dito.
Miguel estava de costas, ajeitando a camisa no corpo largo. Tinha acabado de sair do banho, e a toalha ainda pendia do ombro. A barba por fazer, os cabelos um pouco bagunçados, o olhar fixo no reflexo do vidro. Como se buscasse ali um passado que, por muito tempo, tentou apagar.
Anyellen o observava. Em silêncio. Com o peito quente, os olhos marejados e a alma cheia.
Ela sabia. Era agora.
— Miguel? — a voz dela saiu mais suave que o vento.
Ele se virou devagar, como se cada movimento fosse um convite à vulnerabilidade. E ali estava ele: o homem que ela amou antes mesmo de perceber que o amava. O homem que gritou com o mundo, mas que sussurrava com o coração quando se tratava dela.
— Eu te amei na primeira vez que te vi — ela disse, com um sorriso trêmulo nos lábios.