Os últimos meses da segunda gravidez de Helena foram como um longo e preguiçoso verão baiano. O tempo se esticava, cheio de uma antecipação doce e de uma calma que parecia a recompensa por todas as tempestades que haviam enfrentado. A guerra com Arthur se tornara um silêncio distante, uma memória de outra vida. O mundo de Dante agora girava em uma órbita muito mais próxima: sua casa na Vitória, o ateliê em Candeias e, acima de tudo, a família que era seu verdadeiro norte.
O estúdio de Helena, anexo à casa, estava finalmente pronto. Era o espaço com que ela sempre sonhara. O pé-direito altíssimo, as claraboias que inundavam o ambiente com a luz perfeita do norte, o piso de concreto polido que era fresco sob os pés descalços. Era um templo dedicado à criação. Mas, naqueles últimos dias de gestação, o som do cinzel estava em silêncio. Helena passava suas tardes ali, não em um trabalho febril, mas em uma contemplação silenciosa, sentada em uma poltrona confortável, com os pés para cima, d