No silêncio frio do hospital, o tempo parecia se arrastar em uma cadência melancólica, marcada pelo som intermitente do monitor e pelos sussurros de uma esperança que se esvaía a cada instante. Daniel permanecia imobilizado em uma maca, envolto em lençóis brancos que contrastavam tragicamente com as sombras da sala. Sua mãe, de olhar cansado e coração apertado, estava ao lado dele, segurando sua mão com uma ternura desesperada, como se pudesse, através daquele gesto, trocar de lugar com o filho, desejando que aquilo nunca acontecesse. Preferia passar por uma morte com mil cortes do que ver seu amado filho nesse estado. Enquanto uma luz pálida invadia o ambiente, o médico se aproximou com passos contidos e voz baixa, tentando oferecer respostas que, no fundo, pareciam insuficientes para aliviar a dor que se instaurava. Ele falou com precisão, mas com um olhar que traía o desespero de quem sabe que nem todas as batalhas podem ser vencidas. Ele a conduziu para fora da sala, levando a um
Sophie despertou com um grito sufocado, sua garganta áspera como se tivesse passado horas implorando por ajuda. O peito ardia, cada respiração vinha acompanhada de uma pontada cortante que fazia seus olhos lacrimejarem. Piscou algumas vezes, tentando entender onde estava, mas a dor de cabeça latejante tornava qualquer pensamento mais difícil. Teve o pesadelo mais sombrio de sua vida. Via pessoas atirando, gente ferida e seu noivo Daniel estava sendo espancado por pessoas que ela não conhecia. Um homem forte a levava de seu casamento e ela acabava sendo sequestrada e dopada. Nunca tinha sonhado aquilo, e esperava nunca mais sonhar. Foi quando olhou ao ambiente ao seu redor, percebendo ser um lugar totalmente diferente do que ela estava. Não era sua casa, seu quarto, muito menos a casa de Daniel. Não reconhecia aquele lugar. Suas mãos deslizaram sobre o tecido simples de seu vestido, e a confusão se intensificou. Onde estava seu vestido de noiva? Onde estava Daniel?As lembranças danç
Sophie passou horas naquele mesmo cômodo, onde o silêncio só era quebrado pelo soluço contido e pelo som irregular de sua respiração. Cada instante era uma eternidade de angústia, e a tristeza a afundava ainda mais em um abismo de desespero. Em meio a lágrimas e lembranças fragmentadas, sua mente viajava, quase que involuntariamente, aos dias em que tudo parecia tão perfeito.— Daniel… — ela murmurava para si mesma, com a voz embargada. — Como chegamos aqui?Os pensamentos a transportavam para a faculdade, onde seus olhos se encontraram pela primeira vez. Lembrou-se do sorriso tímido dele, do jeito desajeitado com que tentava puxar conversa, e da sensação inexplicável de que, por um breve instante, o mundo conspirava para uni-los. O primeiro encontro, repleto de risos e timidez, havia se transformado em um dos momentos mais lindos e felizes de toda a sua vida, um filme que se repetia incessante em sua mente.E então veio a primeira viagem com a família dele, onde o ambiente era acolhe
O silêncio era tão espesso que parecia ter peso. O quarto estava envolto por um tipo de escuridão viva, não a completa ausência de luz, mas a penumbra úmida e densa que brotava das cortinas pesadas de veludo carmesim, vedando qualquer vestígio do mundo lá fora. Tapetes persas cobriam o chão como se quisessem abafar passos, segredos ou gritos. E no centro de tudo, como um suspiro contínuo da passagem do tempo, o tilintar regular do belo relógio de cristal ecoava pela imensidão da sala, cada segundo, um martelo contra a sanidade.Sophie despertou com um sobressalto. Seu corpo todo protestava, a dor espalhava-se como brasas acesas sob a pele, pulsando nas têmporas, latejando nas costelas, tensionando os músculos. Tentou se mover, mas o ruído metálico e súbito da corrente a impediu. Quando olhou para baixo, o coração bateu tão forte que chegou a machucar.A algema ainda estava lá.Fria, apertada, e cruelmente justa no tornozelo fino, o metal tinha deixado a pele vermelha, quase ferida.
Antes que ela pudesse protestar, Brian inclinou-se de súbito e colou seus lábios aos dela. O beijo foi tudo, menos carinhoso. Sua mão segurava firme a nuca de Sophie, o corpo colado ao dela, enquanto ele a beijava como quem marca território, como quem toma posse. Sophie gemeu em protesto, tentou empurrá-lo, mas ele a segurou com mais força, puxando-a contra si. Os dentes dele cravaram-se de leve no lábio inferior dela, arrancando-lhe um arfar sobressaltado, uma mistura de dor e repulsa.— Você vai aprender — sussurrou contra sua boca, antes de finalmente se afastar.Sophie ofegava. O coração batia tão rápido que parecia prestes a rasgar suas costelas. O gosto metálico do sangue misturado ao perfume dele a enjoava. Ela virou o rosto, enxugando a boca com o dorso da mão, como se quisesse apagar o toque dele da própria pele.Brian, por sua vez, parecia imperturbável. Com calma estudada, abriu o paletó com elegância e puxou de dentro uma pequena rosa branca, perfeita, intacta, como se tiv
A manhã mal havia nascido, mas o quarto em que Sophie estava permanecia mergulhado numa penumbra sufocante. As cortinas grossas de veludo ainda bloqueavam toda a luz, como se fossem cúmplices da prisão. O ar ali dentro parecia antigo, parado, e cada respiração exigia um esforço consciente.Sophie sentia o corpo cansado, os músculos doíam, a pele ainda carregava o ardor das últimas horas. Mas havia algo em seus olhos, uma chama quase imperceptível que teimava em não se apagar.Arrastou-se com dificuldade até o limite da corrente, o tornozelo latejava, mas ela não se importava. Seus olhos estavam fixos na porta.O único caminho.A única chance.Com movimentos contidos, ela estendeu os dedos e tocou o metal da corrente, seguindo-a até o ponto onde ela se prendia ao chão de mármore. A base era sólida, o ferro incrustado na pedra, como se fizesse parte da própria estrutura. Sophie puxou com força, depois, com mais força. O som metálico cortou o silêncio como uma lâmina, um estalo seco e ás
Brian arrastava Sophie pelos cabelos sem se importar com seus gritos abafados, com o sangue que escorria pelas pernas arranhadas, ou com os soluços desesperados que escapavam entrecortados por falta de ar. As portas se abriram para eles como bocas famintas, engolindo ambos no mesmo silêncio de mármore e ouro.Ele não disse uma única palavra.Apenas caminhou, firme, decidido, até chegar a uma porta estreita ao final de um longo corredor. Um local que Sophie nunca tinha visto, mas que exalava um frio diferente. Um frio que não vinha do clima, mas da sensação de que ali dentro não havia mais humanidade.Com brutalidade, Brian puxou a maçaneta e escancarou a porta. Do outro lado, escuridão.— Entre, agora! — rosnou.Sophie hesitou por um segundo. Foi o suficiente para que ele a empurrasse com força. Seu corpo foi lançado contra o chão de pedra, a dor da queda atravessou-lhe as costelas. Antes que conseguisse se levantar, ouviu o estalo da porta se fechando atrás dela e a escuridão a engol
As lágrimas voltaram a cair. Ela olhou para si mesma no espelho, os olhos vermelhos, o rosto machucado, a alma em frangalhos.— “Prometo te amar…” — murmurou, a voz embargada.— Mais alto.— Prometo te amar… na saúde e na doença.— Continua.— Prometo estar ao seu lado… em todos os dias difíceis.— E?— Prometo respeitar…— Obedecer — corrigiu Brian, aproximando a boca do ouvido dela. — Diga.— Prometo obedecer… suas decisões.— Isso. Agora diga que pertence a mim.— Eu…Ele apertou seus ombros com força.— Diga, Sophie.— Eu… pertenço a você.Brian sorriu no reflexo.E Sophie, diante de mil versões de si mesma, sentiu que uma parte dela havia morrido naquele momento.O silêncio que se seguiu após a última frase dita por Sophie parecia mais ensurdecedor que um grito.Ela mal reconhecia a própria voz.Ficou ali, estática, com os olhos cravados no reflexo, não apenas o seu, mas o dele atrás dela, como uma sombra eterna, um predador que se recusava a sair de cena. As mãos dele ainda pesa