O primeiro pensamento de Helena quando abriu os olhos foi que tinha sonhado tudo.
Por alguns segundos, permaneceu imóvel, o rosto aninhado no tecido macio do suéter dele, respirando o cheiro conhecido que parecia mais presente que o próprio ar.
Mas então sentiu o braço de Arthur envolvendo seus ombros, a palma firme descansando contra seu braço, e soube que não havia sonho algum.
Eles estavam ali.
Juntos.
E aquilo era real.
Por um instante, Helena não se moveu.
Quis gravar cada detalhe daquela quietude — o calor, o compasso tranquilo da respiração dele, a forma como o peito dele subia e descia devagar.
Na penumbra suave do flat, tudo parecia suspenso.
Arthur também não se mexia.
Ela não sabia se ele dormia ou apenas fingia não perceber que ela despertara.
Aquela era a primeira manhã em que não acordava com a garganta fechada de obrigação, de raiva, de medo.
E, por isso mesmo, talvez fosse a mais perigosa.
Porque ali, naquela paz que não combinava com nada que vivera antes, ela sentia