— Carol, este é o dinheiro que guardei para o seu enxoval. Agora que você e o Theus finalmente vão se casar, use para comprar algumas coisas! — Disse a avó, segurando a mão de Carolina.
Ela colocou a mão da neta sobre a de Matheus e, em seguida, enfiou o cartão entre as duas mãos unidas.
As lágrimas de Carolina caíram em silêncio. Ela não teve coragem de encarar os olhos da avó.
A notícia do casamento de Matheus estava por toda parte. A avó, certamente, também vira. Mas, com a mente já fragilizada pela atrofia cerebral, assumira, sem dúvidas, que a noiva era Carolina.
— Theus, me prometa que vai cuidar bem da Carol. — Pediu a avó, segurando a mão de Matheus com força, quase como um apelo.
— Pode ficar tranquila, dona avó. Vou cuidar da Carol por toda a vida. Temos até um pacto de vida e morte: nunca vamos nos separar. — Respondeu Matheus.
As palavras dele fizeram o coração de Carolina doer como se estivesse sendo perfurado por agulhas.
Quatro anos antes, durante uma viagem a trabalho, Matheus a levara a uma igreja. Lá, os dois fizeram um voto eterno. Ele dissera que não queria apenas esta vida ao lado dela, mas também a próxima e todas as que viessem depois. Vida após vida.
Mas agora… Nesta própria vida, eles já não existiam mais como casal.
No fim das contas, juramentos eram feitos para perder o valor. E promessas… Para serem quebradas.
— Theus, no dia do casamento, você tem que vir me buscar. Quero ver com meus próprios olhos vocês dois se casando. — Pediu a avó.
— Vó, no dia vamos buscá-la com certeza. Ainda vamos brindar com a senhora e tirar uma foto especial juntos. — Disse Matheus.
Na frente dela, ele não era o presidente poderoso, frio e inalcançável. Era apenas o namorado de Carolina.
Ao saírem do asilo, Carolina sentia o peito apertado, como se estivesse cheio de espuma que inchava e sufocava. Com os olhos marejados, perguntou:
— Matheus, por que promete o que não pode cumprir?
Se não podia se casar com ela, por que dizer que se casaria?
Se não poderia buscar a avó no dia do casamento, por que garantir que o faria?
Matheus, olhando para o celular, leu a mensagem que Tatiane havia enviado. Enquanto seus dedos digitavam a resposta para ela, respondeu também a Carolina:
— Daqui a pouco ela esquece. O importante é prometer, para deixá-la feliz agora.
Então era isso… Todas as palavras que ele dissera à avó não passavam de mentiras para agradá-la.
Inclusive quando dizia amar Carolina, cuidar dela para sempre, nunca a abandonar… Tudo não passava de enganação.
— A Tatiane fez um lanche da noite e vai me levar. Vou voltar agora. Você pega um táxi depois. — Disse Matheus, erguendo o celular para que Carolina visse, sem qualquer constrangimento, a mensagem trocada entre ele e Tatiane.
Ele era direto, até parecia transparente… Mas esquecia que ela era sua mulher, que o amava. Mostrar assim, na cara dela, as demonstrações de carinho de outra era como cravar-lhe uma faca no coração.
— Sim. — Respondeu Carolina, com apenas uma sílaba.
Se dissesse mais uma palavra, temia que as lágrimas caíssem.
O coração podia estar morto, mas a dor permanecia. Uma dor de rasgar o peito, que queimava por dentro.
Nesses últimos três meses, Carolina havia provado o pior sofrimento que alguém podia sentir. Não sabia se, dali a sete dias, quando Matheus recebesse a notícia de seu casamento, ele também sentiria essa dor.
Matheus foi embora. Ele e o carro desapareceram na escuridão infinita da noite.
Dizia amá-la, mas a deixava sozinha, jogada no deserto daquela madrugada…
Carolina não era uma apaixonada cega. Sabia que o amor de Matheus por ela morrera no instante em que Tatiane voltara.
Ele ainda se dava ao trabalho de agradá-la, provavelmente porque ela ainda lhe era útil.
Na semana anterior, ela própria ouvira, escondida, uma conversa dele com um amigo:
“Se não fosse a Tatiane insistir que ela organizasse o casamento, eu já teria mandado ela embora há muito tempo.”
Ele só a mantinha por perto para agradar a noiva.
Apertou o cartão na mão até sentir o latejar nos dedos. Ao erguer os olhos para a janela acesa do quarto da avó, Carolina conseguiu, mesmo na penumbra, reconhecer a silhueta curvada da idosa.
Era órfã, sua mãe morrera pouco depois de lhe dar à luz. A avó a levara para casa e a criara como filha. Ela era sua única família no mundo.
Dois anos antes, a avó fora diagnosticada com câncer de estômago em estágio terminal. O fato de ainda estar viva já era um milagre.
Tudo o que a avó queria era vê-la casada, feliz. Carolina não podia decepcioná-la.
Pegou o celular e escreveu para o contato fixado no topo da lista de conversas:
[Você aceita se casar comigo?]