O silêncio dominava a casa. E Rose saboreava o café da manhã em paz, sentindo-se quase dona de si. Essa calma era rara, e ela desejava se agarrar a ela.
— Onde estão todos? — perguntou, curiosa.
A empregada respondeu:
— Dona Valéria saiu para comprar o presente da festa de aniversário dos Caruso, hoje à noite.
Rose estremeceu. Aquele sobrenome soava como um sussurro antigo em sua memória. A cidade guardava cicatrizes: o adultério do pai, o exílio no interior, a morte da mãe. Tudo a perseguia.
Rose tinha acabado de começar a desfazer a mala quando a voz da empregada ecoou pela porta:
— Dona Rose, o senhor Francisco, da família DeLuca, a espera na sala. Disse que veio buscá-la.
O coração dela quase parou.
— O quê? — murmurou, sentindo arrepio.
Por um instante, pensou em mandar a empregada dizer que não havia ninguém em casa, que ela não poderia descer. Quase desistiu de enfrentá-lo, quase se deixou vencer pelo medo.
Mas então se lembrou da pistola. “Ele só pode estar aqui por causa dela, preciso devolver logo...”
Respirou fundo, pegou a arma e a escondeu dentro da bolsa de mão. Depois, forçou as pernas a se moverem, descendo as escadas devagar, cada passo pesado, como se estivesse caminhando rumo ao inevitável
Frank estava lá, sentado no sofá, olhar de predador, cada detalhe dele exalando poder e desejo perigoso.
— Bom dia, Sr. DeLuca — ela disse, tentando manter distância.
Ele sorriu de canto.
— Bom dia, Rosalie. Não precisa de formalidades entre nós.
— Tenho que tratá-lo com respeito. Afinal, o Senhor será meu cunhado.
Frank ergueu uma sobrancelha, com ironia.
— Você ainda não sabe disso.
Ele se levantou e avançou devagar. Rose sentiu o ar faltar. Instintivamente puxou a arma da bolsa para ele manter distância.
Frank parou, surpreso, mas não recuou.
— Cuidado, principessa(em italiano). Essa arma não foi feita para suas mãos delicadas.
— E se eu atirar agora? — desafiou fingindo ter coragem.
— Você não vai. Eu vejo nos seus olhos… você deseja me matar tanto quanto deseja me beijar.
Rose apertou os lábios, nervosa.
— Basta puxar o gatilho — respondeu.
Ele sorriu, sombrio, e foi se aproximando, passo a passo.
— Está travada. E mesmo que não estivesse, Rosalie… se fosse pelas suas mãos, eu aceitaria morrer — falando mansinho.
E ele deu um passo para frente
Num gesto brusco, ele tomou a arma dela, os dedos se tocando, O olhar dele era puro desejo.
— Você é um canalha, Frank! — falou.
Ela recuou encostando na estante.
Ele avançou ainda mais.
— Gosto de ver você brava.
Sem saída. Frank colou o corpo no dela, prendeu-a com firmeza.
Ele era grande e Rose se sentia pequena perto dele.
Sem saída, Rose falou quase que implorando.
— Frank, você não pode fazer isso comigo.
Ele olhou para ela com carinho e uma mão acariciava seu rosto com inesperada ternura, descendo até a nuca, puxando-a contra si. A outra mão segurava sua cintura, dominando-a.
Ele mordeu os lábios inferior dela, provocando-a.
— Você treme… mas não é de medo.
Rose pensou em empurrá-lo, mas o desejo a consumia. Quando os lábios dele se fecharam sobre os seus, o beijo foi arrebatador, selvagem, uma explosão de tudo que ela tentava reprimir. Rose o abraçou, sem forças para resistir, perdida no calor daquele homem proibido. O seu corpo pegava fogo.
O som de passos ecoou.
— Hoje é o aniversário da Gina, minha amiga! — a voz aguda de Ana encheu o corredor.
Eles se separaram bruscamente, os olhares ainda colados, o coração dela em chamas.
Valéria surgiu logo depois, desconfiada:
— Frank? Você por aqui?
Ele, já recomposto, respondeu com a calma de quem controla tudo:
— Vim buscar Rose. Minha Nonna deseja conhecê-la na fazenda.
Rose o encarou, indignada e sem saber de nada. A arma já estava de volta à cintura dele.
Rose engoliu em seco.
Aquilo não fazia sentido. O lógico seria Martin, seu noivo, conduzi-la até a nona, a matriarca dos DeLuca. Mas não, era Frank quem vinha buscá-la. Um homem que a fazia estremecer entre medo e desejo, e que parecia se divertir em confundir cada um de seus sentimentos.
Por que Valéria permitira aquilo? Rose conhecia bem sua madrasta… Para ela, o que importava era o casamento dar certo. Se fosse com Martin ou com qualquer aproximação vantajosa dos DeLuca, tanto fazia. A ambição sempre falava mais alto.
— Preciso me trocar — disse Rose, tentando ganhar tempo.
No quarto, seu coração batia acelerado.
"Por que ele quer me levar até a fazenda da família?
E se for outro espetáculo macabro? Eu vi o que ele foi capaz de fazer… Ele é louco."
As lembranças da execução que presenciara vieram como um choque, fazendo seu corpo gelar. Tremendo, Rose abriu a gaveta e pegou uma tesoura de ponta. Escondeu dentro da bolsa como último recurso de defesa.
"Meu Deus, lidar com ele é uma tentação que pode me destruir. Se alguém descobrir esse envolvimento, eu mesma poderei ser executada."
Quando desceu, Frank a esperava, impaciente, com aquele jeito perigoso e sedutor. Ela entrou no carro, sentando-se no banco de trás. Dois homens armados ocuparam os assentos da frente: o motorista e um guarda-costas. Frank, é claro, estava ao lado dela, tão próximo que seu corpo exalava uma presença sufocante.
Ele segurou sua mão como se fosse dono dela. Rose tentou puxar, mas a força dele não permitia.
No silêncio pesado, o brilho metálico das armas não lhe escapou. Frank tirou a pistola de sua cintura — a mesma que ela havia roubado dele — e sorriu, exibindo ainda outra que mantinha na cintura.
— Vai me levar para assistir outra execução? — perguntou ela, com ironia, tentando disfarçar o pânico.
Frank soltou uma risada baixa, perigosa.
— Não é todo dia que se mata alguém, principessa(em italiano)… Hoje o dia será tranquilo.
As palavras deveriam acalmá-la, mas o jeito como ele as disse apenas fez seu coração acelerar ainda mais.
O carro seguiu pela longa estrada o dia estava ensolarado, cortando plantações que pareciam infinitas. O vento batia no vidro, mas nada conseguia afastar o calor da mão de Frank entrelaçada à dela. Era como se ele dissesse, sem palavras, que ela já lhe pertencia.