Amara
Eu precisava ouvir uma voz que me lembrasse quem eu era antes do sobrenome dele. Lara. Uma hora com ela e eu voltaria a respirar.
Troquei de roupa em silêncio, calça escura, tênis, cabelo preso. Abri o closet, peguei a bolsa menor, sem jóias, sem nada que dissesse “Blackwell”. Respirei. A regra dele ecoou no crânio:
— “Quando quiser sair, me avise.” — Eu não quis avisar. Eu quis sair.
Girei a maçaneta do quarto como quem roda um segredo. O corredor acendeu a luz de presença. Ótimo. Fingi não perceber as câmeras. Na sala, a parede de vidro mostrava um céu sem nuvens, bom para voar, ruim para esconder.
Peguei o elevador de serviço, o único que às vezes o pessoal da limpeza usa. Desci dois andares e a porta não abriu. A luz do painel piscou vermelho: acesso restrito.
— Claro que sim, — murmurei. — Seu prédio, suas jaulas.
Tentei a escada. A porta cedeu com um grunhido. O concreto cheirava a poeira limpa e frio antigo. Desci rápido, contando os lances com o coração.
Em cada patama