Amara
Mais um dia como esposa de um bilionário, mais uma festa que eu não queria ir. A caridade tinha cheiro de perfume caro e de culpa engarrafada. O conselho exigiu nossa presença, e eu fui com o coração blindado atrás do sorriso. Damian me deu o braço na entrada, flashes riscaram o ar. Eu respondi com educação e distância, lembrando que a noite anterior ensinou limites.
— Aguenta? — ele perguntou, quase sem mover os lábios.
— Aguento. — E completei em voz mais baixa: — Não me tira de vista.
Caminhamos pelos estandes, crianças em fotos, doações em números vistosos, discursos em tom pasteurizado. Eu cumpri o percurso, mas o corpo pedia ar. Quando a orquestra começou uma valsa, eu soltei a mão de Damian.
— Dois minutos — avisei.
— Ronan vai com você.
— Sozinha. Não vou longe.
Ele mediu a sala, mediu a minha teimosia, e assentiu. Cruzei o foyer por trás dos arranjos e encontrei uma ala quase vazia, um corredor com retratos antigos, tapete grosso, uma janela semiaberta. O som do salão