Amara
A casa tinha respirado mal a noite inteira. Acordei com a sensação de que alguém batia à porta por dentro das paredes. Damian saiu cedo, um bilhete curto na mesa:
— “Reunião externa. Volto à tarde. — D.”
O silêncio que ele deixou não era vazio, era campo minado.
Vesti um moletom, prendi o cabelo e desci para a biblioteca, movida por uma inquietação que não entendia.
A sala sempre me pareceu um tribunal antigo, estantes altas, madeira escura, um cheiro de papel que guardava vozes. As janelas filtravam uma luz fria, como se o sol também precisasse de licença para entrar ali.
Eu deveria estar estudando, respondendo e-mails da faculdade, fingindo normalidade. Em vez disso, passei os dedos pela lombada de cada livro como quem procura uma fechadura.
Títulos de economia, história, direito, coleções de arte, edições raras de poetas ingleses. E, entre todos, um volume desalinhado, quase escondido atrás de um atlas. A capa era de couro gasto, sem nome. Tive a impressão de que ele me re