Damian
Voltei quando a tarde começou a perder cor, carregando no corpo o cansaço de quem lutou contra algo sem nome. O elevador privado sussurrou até o último andar, e a porta da cobertura se abriu para o cheiro conhecido da casa: um perfume leve que já associei a Amara.
Entrei com a expressão fechada, o nó da nuca rígido, e senti o resíduo da mudança ainda crepitando sob a pele. Meus olhos demoraram a retomar o cinza, o ouro insistia nas bordas, como luz que se recusa a apagar.
Ela me esperava na sala, em pé diante das janelas altas, braços cruzados, queixo erguido por teimosia e medo. O reflexo dela no vidro era uma tentação. O meu era uma sombra maior do que pretendo mostrar.
— Onde você estava? — perguntou. Não era grito. Era pontaria.
— Resolvi pendências. — Mantive a voz estável.
— Pendências que deixam marcas no mármore? — Ela não piscou. — Pendências que uivam pela cidade?
Parei a dois passos, sentindo a eletricidade do corpo pedir distância e, ao mesmo tempo, querer encurtá-