Já sozinho com Doris, Hector pressiona os punhos contra as laterais do corpo, tentando conter a fúria que ainda pulsava em cada veia. Seus ombros sobem e descem com a respiração acelerada, enquanto ele tenta manter um mínimo de controle.
— Sente-se — ordena, apontando para a cadeira à frente da mesa, sem sequer olhar diretamente para ela.
Mas Doris continua estática no meio do escritório, com os olhos marejados, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Suas mãos tremem discretamente, presas ao avental, e ela sequer ousa piscar.
Ao perceber que ela não iria se mover, Hector dá um passo. Depois outro. Começa a andar em círculos ao redor dela, devagar, como um predador farejando o medo da presa.
— É melhor começar a falar — ele murmura, amargo, parando bem atrás dela. — Você mentiu para mim a vida toda, Doris. Por qual motivo?
Por um momento, ela fecha os olhos e as lágrimas, silenciosas, escorrem por suas bochechas marcadas pelo tempo.
— Juro que nunca quis que fosse assim — su